Sam Darcy¹ – Como funcionava a democracia soviética nos anos 30²

Fonte: Para a História do Socialismo (www.hist-socialismo.net)

Tradução do inglês (cotejado com a versão francesa) e edição por CN em 30/04/2012 (http://www.revolutionarydemocracy.org/rdv11n2/darcy.htm)


(…) Em Dezembro de 1936, o Partido Comunista devia realizar as eleições anuais dos seus dirigentes. Até ali, as candidaturas e eleições para cargos partidários tinham sido sempre feitas abertamente. Mas devido a esta prática havia membros que se sentiam muitas vezes constrangidos em expressar a sua oposição a certas figuras poderosas dos comitês executivos, com receio de represálias. O Comitê Central decidiu então submeter toda a direção a um teste para saber se os seus membros tinham realmente a aceitação das bases. Aqueles que realizavam um serviço público útil seriam provavelmente reeleitos, enquanto outros, que estavam simplesmente agarrados a uma sinecura e a um lugar de poder, dificilmente manteriam os seus cargos. Com este fim foi introduzido o voto secreto.

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Saudações aos comunistas italianos, franceses e alemães

Um texto excelente de Lenin, que demonstra um pouco de seu domínio da dialética marxista, fazendo a crítica tanto da “pequeno-burguesia” adepta das ideias de Kautsky quanto a crítica dos ultra-esquerdistas que desejam “proibir” a participação dos comunistas no parlamento burguês. Traduzido para Português (do Brasil) a partir da tradução para Português (de Portugal) realizada pelo site Para a História do Socialismo.

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Grover Furr — O “Holodomor” e o filme “Bitter Harvest” são mentiras fascistas

Introdução do Partido Comunista Português

Com a subida ao poder de fascistas e anticomunistas na Ucrânia, regressaram velhas mentiras históricas. Como a do alegado genocídio de ucranianos por fome alegadamente imposta pelos “estalinistas” em 1932-33: o alegado “Holodomor” retratado no filme “Bitter Harvest” (Colheita Amarga) a circular brevemente em Portugal.

 

Mentiras apoiadas pelos serviços secretos imperiais. Para branquear, saudar e legitimar o poder pró-imperial extremamente reaccionário, imposto na Ucrânia para servir os interesses do grande capital. E também para alimentar a campanha contra Estaline e o socialismo soviético.

 

Esta campanha chegou a Portugal. Em 3 de Março, duas semanas depois de a AR ter condenado a ilegalização do PC da Ucrânia, o PSD propôs um voto de “condenação pelo Holodomor”. O PS – que não gosta de deixar créditos direitistas em mãos alheias, ainda que escondidos por detrás de belas palavras como “homenagem” e “vítimas” – também propôs um voto de «homenagem às vítimas da grande fome na Ucrânia». Ambos os votos foram aprovados. O do PSD, com o apoio do CDS, PAN e um deputado do PS, a abstenção do PS e votos contra do PCP, BE, PEV e três deputados do PS. O do PS, com os votos do CDS, PAN e BE, a abstenção do PSD e votos contra do PCP e PEV. Note-se (mais uma vez!) o alinhamento do BE com o PS.

 

O PCP desmascarou, em certa medida, a “exumação do cadáver de uma campanha lançada há vários anos pela extrema-direita ucraniana”. É uma campanha que desde a Guerra Fria tem sido desmascarada. É claro que muitos cidadãos honestos não têm conhecimento disso. No PSD, PS, etc., também há os desconhecedores; mas, mais do que isso, abundam os desonestos lambe-botas do grande capital e do império.

 

Para os cidadãos desconhecedores mas honestos aqui deixamos ficar a tradução de um excelente artigo de Grover Furr, Professor e especialista em história da URSS da Universidade de Montclair, EUA, publicado na revista Counterpunch em 3 de Março.

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Resposta à animação “Os Invencíveis”, do Instituto de Memória Nacional da Polônia — Parte 4

O Massacre de Katyn

Contexto

No dia 13 de Abril de 1943, a imprensa nazista anunciou que haviam sido encontradas valas comuns na Floresta de Katyn próximo a Smolensk, contendo os corpos de milhares de oficiais poloneses alegadamente assassinados pelos russos. O plano era minar as relações entre soviéticos e poloneses. Três dias depois, o governo soviético nega as acusações alemãs.

A insistência do líder do governo polonês no exílio, o General Władysław Sikorski, em endossar a propaganda alemã levou ao completo desastre nas relações entre o governo polonês em exílio em Londres e o governo soviético – como Goebbels comentou em seu diário:

“Esta quebra representa uma vitória de 100 por cento para a propaganda alemã e, especialmente, para mim pessoalmente… nós fomos hábeis em converter o incidente de Katyn em uma questão altamente política…”

O objetivo de Sikorski era disputar a fronteira a leste da Linha Curzon.

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Resposta à animação “Os Invencíveis”, do Instituto de Memória Nacional da Polônia — Parte 3

Leia também a Parte 4.

Rússia refresca memória da Polônia sobre ajuda soviética ao país durante 2ª Guerra Mundial

Enquanto a Polônia tenta eliminar quaisquer vestígios da União Soviética de sua história, o Ministério da Defesa russo desclassificou documentos que comprovam assistência maciça soviética aos poloneses nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial.

Os documentos do Arquivo Central do Ministério da Defesa “nunca antes publicados para livre acesso”, detalham o apoio recebido pela Polônia da União Soviética durante libertação dos nazis entre 1944 e 1945. De acordo com os papéis, a URSS fornecia aos poloneses nas áreas libertadas “comida, medicamentos, veículos, combustível e matéria-prima para empresas industriais”.

Por exemplo, “durante março e novembro de 1945, mais de 1,5 bilhão de rublos (cerca de 930 milhões de reais) nos preços de produtos alimentícios de 1945 foram dados para a população polonesa e empresas agrícolas do país”.

Além do mais, o Exército Vermelho se envolveu na reconstrução de ferrovias e pontes, que foram bombardeadas pelas forças nazis antes de serem expulsas da Polônia.

O Ministério da Defesa da Rússia publicou também o acordo entre o comando soviético militar e o governo provisório polonês em relação ao destino do equipamento industrial e outras propriedades abandonadas pelos nazis no país. “Nota-se que todas as usinas [alemãs] e equipamento na Polônia sem exceções foram entregues aos poloneses. Desmontagem e transferência foram rigorosamente proibidas”, diz-se nos documentos.

Em junho, o parlamento polonês adotou um pacote de emendas legislativas para proibir qualquer propaganda relacionada ao comunismo ou qualquer outro regime totalitário em edifícios e estátuas. Há alguns dias, autoridades locais da cidade de Szczecin deram início à destruição do monumento em homenagem aos soldados soviéticos. Muitos outros monumentos no país correm o risco de ser destruídos da mesma forma.

O embaixador russo na Polônia, Sergey Andreev, criticou a lei polonesa anticomunista. Em entrevista ao canal RT, ele disse: “Qual é a ligação entre os monumentos e propaganda comunista? Foram erguidos para homenagear 600.000 soldados soviéticos e oficiais que morreram durante a libertação da Polônia entre 1944 e 1945. Trata-se de monumentos dedicados às pessoas que salvaram a Polônia, pois somente graças a eles, a Polônia existe hoje em dia, caso contrário não existiria nem comunismo nem capitalismo, tampouco poloneses como povo.”

A publicação dos documentos pelo Ministério da Defesa se enquadra no projeto digital “Memória contra o esquecimento” que visa preservar exatidão histórica e prevenir sua falsificação.

Fonte: Sputnik News

Jason Unruhe — O Livro Negro do Comunismo Desmascarado

Traduzido por Nathan Palmares

Nota do tradutor: No final do artigo, junto com as fontes em que o autor cita todas elas em inglês, deixarei material em português que também ajuda a entender e desmascarar muitas das mentiras, absurdos e bobagens contidas no “Livro Negro do Comunismo”.


 

O Livro Negro do Comunismo Desmascarado

Por Movimento Internacional Maoísta
Primeira edição por Leading Light Communist Organization*
Segunda edição por The Maoist Rebel

O Livro Negro do Comunismo, é uma das distorções mais flagrantes da história. Os números de mortes fraudulentos contidos no livro, são a única fonte do livro mais anti-comunista citado no mundo. O livro esmaga o socialismo e tenta o tornar pior do que o fascismo, sem rodeios, tenta retratar o fascismo como uma coisa boa.

O livro é tão tendencioso e absolutamente sem sentido que em 2001 o Movimento Internacional Maoísta informou a Harvard University Press de seus erros inegáveis. Como resultado o Movimento Internacional Maoista conseguiu com que Mark Kramer admitisse que o livro continha erros matemáticos propositais.

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Stalin e a Internacional Comunista

Um ensaio de N. Steinmayr para a Stalin Society.
Setembro de 2000, Londres.

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A Revolução Socialista de Outubro em 1917, o estabelecimento de dois sistemas opostos, socialismo e capitalismo, junto à crescente internacionalização das lutas proletárias, salientou mais uma vez a necessidade de formas eficazes de solidariedade mútua e de coordenação entre as vanguardas revolucionárias operando em diferentes países. Consequentemente, criou-se a III Internacional Comunista, ou Comintern, em Moscou em 1919 – uma nova internacional proletária, livre dos oportunistas que prevaleciam na II Internacional, uma nova internacional que, segundo Lenin, “começou a implementar a ditadura do proletariado”. [1] O reconhecimento da ditadura do proletariado e a luta pela sua segurança representavam, de fato, condições preliminares de adesão.

Foi sob a iniciativa de Lenin que a Internacional Comunista inicialmente elaborou sua estratégia e tática revolucionárias, bem como seus princípios políticos e organizacionais. Logo se espalharam para além da Europa. E, adquirindo importância vital para todos os partidos comunistas, a III Internacional também exerceu considerável influência social e política na arena internacional. Como o socialismo estava sendo consolidado na União Soviética, o Comintern permaneceu existindo até sua dissolução em 1943 [Nota do Editor: leia o nosso post Dimitrov sobre a dissolução da III Internacional]. Sete congressos foram realizados (o último ocorrido em 1935). Entre os congressos seu órgão mais alto foi o Comitê Executivo da Internacional Comunista (CEIC), que convocou treze sessões plenárias de 1922 a 1933.

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Stalinismo e Anti-Stalinismo? — Parte 2

Leia a parte 1: Stalinismo e Anti-Stalinismo? — Parte 1

Além disso, deve-se notar:

Se Khrushchev e Gorbachev, em sua acusação contra Stalin, foram guiados pelo desgosto pela desumanidade, teriam que condenar o imperialismo de maneira semelhante, mas para eles estavam buscando confiança e atribuindo-lhe a capacidade de paz. Em contraste com isso, está a avaliação extremamente positiva de Stalin pelo embaixador dos EUA, Joseph Davies, que também acompanhou os julgamentos de Moscou.

Além das críticas históricas da pessoa de Stalin, considerações politico-teóricas também desempenham um papel na deslegitimação dele. O colapso dos países socialistas europeus, especialmente a União Soviética, teria servido como prova da correção da tese trotskista da impossibilidade de se construir o “socialismo em um só país”, geralmente negando que não era Stalin, mas Lenin, que em 1915 considerou a possibilidade do “socialismo em um só país”. A impossibilidade da completa vitória, definitiva do socialismo num só país sem a vitória da revolução não menos importante em um número de países, é a impossibilidade de uma garantia total contra a intervenção e, consequentemente, contra a restauração da ordem burguesa. Isso adiaria a revolução socialista para o dia de São Nunca. Mas Stalin não só defendeu a tese de Lenin, como também provou ao PCUS que tanto a construção socialista em um país quanto a disputa contra os agressores fascistas eram possíveis.

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O “Caso dos Médicos” de 1953 na URSS

O discurso de Nikita Kruschev já foi analisado por alguns historiadores e não deve de nenhuma maneira ser absorvido acriticamente. É preciso analisar a fundo o que motivou as acusações feitas em seu “Relatório Secreto”, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética.

Kruschev afirma que o Caso dos Médicos foi “fabricado por Stalin”. Esse caso foi uma acusação feita a vários médicos no fim dos anos 40, que se estendeu durante mais alguns anos. Foi a transformação de uma justa campanha anti-cosmopolita em uma campanha antissemita. Uma médica do Kremlin, Lydia Timashuk, acusou seu colega Yakov Gilyarievich Etinger de ter de propósito interpretado erroneamente o exame cardiológico de Andrei Zhdanov, para deixá-lo morrer. Até então, consideravam que a morte dele foi por causas naturais.

A versão hegemônica desses acontecimentos, até hoje, é a de que Stalin acreditou nas acusações. Inclusive, certos intelectuais burgueses afirmam que a morte de Stalin foi o que salvou os médicos judeus do julgamento e da execução. Fontes sionistas costumam ir além, considerando o “antissemitismo de Stalin” algo indiscutível. Porém, Stalin tinha sérias dúvidas sobre esse suposto complô, justificando tais dúvidas com o fato de as únicas evidências serem os relatórios da doutora Timashuk, algo que é até relatado por sua filha Svetlana Alliluyeva, em “20 Cartas a Um Amigo”.

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Marx e Engels e as perspectivas de revolução na Rússia

É aparente que Marx e Engels eram extremamente bem informados sobre a posição do movimento russo e da sociedade russa em geral. Um boato burguês ainda está por aí afirmando que Marx e Engels “não previram que a revolução ocorreria primeiro em um país atrasado como a Rússia, e não em um país capitalista desenvolvido, como a Inglaterra ou a Alemanha”.

É verdade, com certeza, que nos escritos mais antigos, tanto Marx quanto Engels não apenas esperavam, também pensavam que muito provavelmente a revolução proletária se desenvolveria em países em que o capitalismo estivesse totalmente desenvolvido. Mas na metade, e especialmente no fim de suas vidas e carreiras, ambos previram corretamente que o elo fraco estaria provavelmente na Rússia:

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Josef Stalin — Discurso no VIII Congresso do Komsomol (Liga Comunista Leninista da Juventude de Toda a União)

16 de Maio de 1928

Camaradas, é uma coisa bem vinda nos congressos falar de conquistas. Sem dúvida que nós temos conquistas. Essas conquistas são, é claro, consideráveis, e não há razão para escondê-las. Mas, camaradas, tem-se tornado uma prática entre nós ultimamente de falar tanto de conquistas, e algumas vezes tão afetadamente, que se perde a vontade de falar delas novamente. Permitam-me, assim sendo, sair da prática geral e dizer algumas palavras não sobre nossas conquistas, mas sobre nossas fraquezas e nossas tarefas relacionadas a elas.

Estou me referindo, camaradas, às tarefas envolvidas por questões de nosso trabalho interno de construção.

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Stalinismo e Anti-Stalinismo? — Parte 1

Eckhard Roth

Artigo no Die Rote Fahne, jornal do Partido Comunista Alemão
(Kommunistische Partei Deutschlands – KPD)

Edição de Maio de 2008

Título original: “Stalinismus oder Anti-Stalinismus?”

No começo de um artigo que faz uma avaliação política de Stalin, primeiro deve-se concordar com os termos usados. Se notamos que há um “marxismo” ou um “leninismo”, é ingênuo assumir que a observação sugere haver um “stalinismo” lógico. Apesar de existirem camaradas que orgulhosamente se consideram stalinistas, é preciso notar que o termo “stalinismo” tem uma origem burguesa e é provido de conteúdo negativo. Atribui-se aos termos “marxismo” e “leninismo” principalmente os benefícios teóricos dos mesmos, enquanto “stalinismo” é descrito como despotismo sanguinário e falsificador dos princípios leninistas. Assim, é necessário afirmar que “stalinismo” é um termo da luta burguesa, que pode encontrar um lugar no vocabulário da esquerda marxista. Ao invés disso, o lógico é falar em anti-stalinismo, como fez Kurt Gossweiler no seminário internacional do partidos comunistas e de trabalhadores em Bruxelas, 1º de Maio de 1994.

Deve ser clarificado agora o conteúdo desse termo burguês e que função ele tem.

O termo Stalinismo leva a revisões parcialmente gerais e revisões parcialmente específicas. No caso geral, é de se notar que qualquer revolução custará a vida de pessoas inocentes, como tem custado já, e que qualquer revolucionário é mostrado pela contrarrevolução como um “assassino”: Müntzer, Cromwell, Robespierre, Lenin, Liebknecht, Luxemburgo e Stalin.

No caso específico, é preciso comentar sobre os Processos de Moscou, que são exibidos pela burguesia como “anos de terror” ou “Grande Expurgo”. Naquela época, era evidente que um confronto militar com a superpotência beligerante, o Reich [Nota do Editor: Império] Alemão, estava em andamento. Havia também o aparato militar de diversos colaboradores do nazismo. No aparato político, havia grupos anti-partido do lado da esquerda – e desvios de direita. De acordo com observadores estrangeiros, os Processos de Moscou foram conduzidos de maneira justa. A opinião da maioria dos diplomatas que atenderam às negociações era de que foi comprovado que os acusados claramente eram conspiradores com o propósito de eliminar o governo e assim a ofensiva da traição se tornou conhecida. Entretanto, também era conhecida a ideia de que os processos foram puramente produções, o que foi considerado como apropriado por alguns observadores com fins propagandísticos. Os Processos de Moscou foram entendidos como uma preparação para a guerra, tendo em vista o incipiente ataque fascista. Os eventos em Moscou devem então ser considerados numa relação causal. Através dessa limpeza, a quinta-coluna hitlerista foi impedida de atuar na Rússia.

Leia a parte 2: Stalinismo e Anti-Stalinismo? — Parte 2

Do “eurocomunismo” ao oportunismo dos nossos dias — Forxa! Colectivo Marxista-Leninista

Fonte em galego: Forxa! Colectivo Marxista-Leninista
Fonte em espanhol: Exemplar nº 2 da Revista Comunista Internacional

Traduzido do espanhol ao galego por FORXA!
Traduzido do galego ao português por Rodrigo, o administrador do blog Iglu Subversivo.

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Togliatti em selo soviético de 1964 – era do restauracionismo do capitalismo na URSS

A título de introdução.

A reorganização teórica e ideológica do movimento comunista internacional, sobre uma base marxista-leninista sólida, exige continuar aprofundando no estudo da construção do socialismo durante o século XX e analisar cientificamente as causas do triunfo da contra-revolução capitalista na URSS e no resto dos países socialistas europeus.

A restauração capitalista teve causas internas e externas. No entanto, quando se trata de abordar estas últimas, as análises tendem a se concentrar no estudo das diversas linhas de ataque ao socialismo postas em prática pelas potências imperialistas no campo político, militar, econômico, ideológico e psicológico.

Os fatores externos foram determinantes e confirmaram que o confronto entre o campo imperialista e o campo socialista era a expressão genuína da luta de classes em escala internacional [1]. No entanto, deve-se aprofundar no estudo de tendências como a eurocomunista que contribuíram para debilitar o poder socialista, atuando no seio do movimento operário e do movimento comunista internacional, e interagiram muitas vezes com as políticas oportunistas de partidos comunistas e operários que se encontravam no poder.

Os centros ideológicos do imperialismo prestaram assistência e divulgaram amplamente as posições eurocomunistas, contra as linhas que denominavam respectivamente “ortodoxa” ou “pró-soviética”. O eurocomunismo, representado principalmente pelos partidos da Itália, França e Espanha, deve o seu nome às agências de imprensa capitalistas que, com tal denominação, faziam referência às organizações que partilham a defesa de uma série de pontos de vista:

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Resposta breve a um trotskista no grupo Josef Stálin

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Lenin discursando no III Congresso da Internacional Comunista

A posição do Comintern sobre a Revolução Chinesa, que corretamente consideraram que era essencialmente anti-feudal. Ou seja, além de ser anti-imperialista, era uma revolução agrária que combatia os atrasos pré-capitalistas, ponto fundamental que Trotsky negava (e tal ideia errônea poderia até mesmo justificar a vitória do Kuomintang, já que em tal situação uma revolução proletária e camponesa não seria, supostamente, necessária). Isso tem origem na subestimação do campesinato, ideia que faz parte também da teria trotskista da Revolução Permanente, que Lenin já criticou duramente (e tal fato é censurado pelos trotskistas). Sabe-se lá de onde tiraram que “Stalin queria que o PCCh se desfizesse e se integrasse ao KMT”; talvez tenha sido de alguma cartilha trotskista obscura… Enfim, o PCCh sempre teve um respeito enorme por Stalin; já fizeram críticas construtivas; conheciam a dialética. Diferente de quem pinta Stalin como um monstro.


Lenin em 1915, “Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa”:

“A desigualdade do desenvolvimento económico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Daí decorre que é possível a vitória do socialismo primeiramente em poucos países ou mesmo num só país capitalista tomado por separado. O proletariado vitorioso deste país, depois de expropriar os capitalistas e de organizar a produção socialista no seu país, erguer-se-ia contra o resto do mundo, capitalista, atraindo para o seu lado as classes oprimidas dos outros países, levantando neles a insurreição contra os capitalistas, empregando, em caso de necessidade, mesmo a força das armas contra as classes exploradoras e os seus Estados. A forma política da sociedade em que o proletariado é vitorioso, derrubando a burguesia, será a república democrática, que centraliza cada vez mais as forças do proletariado dessa nação ou dessas nações na luta contra os Estados que ainda não passaram ao socialismo. É impossível a liquidação das classes sem a ditadura da classe oprimida, o proletariado. É impossível a livre unificação das nações no socialismo sem uma luta mais ou menos longa e tenaz das repúblicas socialistas contra os Estados atrasados”.


Lenin em 1916, “Programa Militar da Revolução Proletária”:

“O desenvolvimento do capitalismo ocorre de maneira extremamente desigual nos vários países. Não pode ser diferente sob o sistema de produção de mercadorias. Disto segue-se inevitavelmente que o socialismo não pode alcançar a vitória simultaneamente em todos os países. Alcançará vitória primeiro em um ou alguns países, enquanto outros permanecerão burgueses ou pré-burgueses por algum tempo”.


Lenin em 1921, no III Congresso do Comintern, 5 de julho, “Relatório sobre as táticas do PCR”:

“Quando começamos a revolução, pensamos: ou a revolução internacional vem para nossa assistência, e nesse caso nossa vitória seria totalmente assegurada, ou deveríamos fazer nosso trabalho revolucionário modesto com a convicção de que mesmo em caso de derrota teríamos servido a causa da revolução e que nossa experiência seria benéfica a outras revoluções. Na realidade, entretanto, os eventos não ocorreram em linha reta como esperamos. Nos outros países maiores, mais desenvolvidos a revolução não veio até hoje”.


Caso digam que isso é contrário ao que defendia Stalin, mostro algo do mesmo que provavelmente desconhecem, e que deixa claro o que é realmente o “socialismo em um só país” de Lenin e Stalin, quando este afirmou:

“A revolução vitoriosa num país tem por tarefa desenvolver e sustentar a revolução nos outros países”.

Bill Bland – “Stalinismo”

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Stalin, Lenin e Kalinin

Uma carta à Academia Sarat em Londres. Em 30 de abril de 1999 por Bill Bland.

Eu sou grato à Academia Sarat por ter me convidado a palestrar para vocês sobre “stalinismo”.

Porém, sua escolha de tema apresentou-se a mim com certa dificuldade, visto que sou um grande admirador de Stalin e a palavra “stalinismo” foi introduzida por oponentes enrustidos de Stalin – em particular por Nikita Kruschev – em preparação para futuros ataques políticos a ele.

Hoje, de fato, “stalinismo” virou um termo de abuso sem sentido usado para denotar posições políticas com que alguém discorda. A imprensa Conservadora às vezes até descreve Tony Blair como “stalinista” – dando a Stalin, se estivesse vivo, campos amplos para uma ação por difamação!

Stalin sempre se referiu a si mesmo como “um pupilo de Lenin” e eu devo seguir o exemplo e interpretar o termo “stalinismo” como marxismo-leninismo.

Talvez a figura mais próxima à Stalin na história britânica é Ricardo III, do qual todo mundo “sabe” – e eu ponho a palavra “sabe” em aspas – de seus livros de história do 2º grau e de Shakespeare por ter sido um cruel, deformado monstro que matou o pequenino príncipe na Torre.

Apenas recentemente sérios historiadores começaram a perceber que o retrato comumente aceito de Ricardo foi desenhado por seus sucessores Tudor, que tomaram o trono e mataram Ricardo.

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“Stalin ditador”

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Prof. Grover Furr

Abaixo um pequeno trecho traduzido de um debate informal ocorrido em um grupo de discussão, entre o professor Grover Furr, dos EUA, e um professor do Reino Unido, cujo nome será mantido em sigilo.

A discussão se deu em torno do título de “ditador” que geralmente é aplicado a Stalin, e que o professor Furr, profundo estudioso do tema, rejeita veemente.

A ideia de publicar este trecho é apenas para mostrar um rascunho, os grandes movimentos ou traços principais de como este tema é abordado pelos dois lados.

Prof.: Chamar Stalin de ditador não é tanto uma afirmação sobre Stalin como pessoa, mas sim sobre o Estado sobre o qual ele governava. Havia instituições relevantes que inspecionavam o seu poder? Era possível resistir à sua vontade através de meios políticos legais? Era possível contestar publicamente suas políticas ou defender que ele não deveria manter sua posição? Eu acho que não.

Grover: Você está enganado. E isso ou porque você não estudou esta questão por si mesmo, ou então não leu alguém que tenha feito isso. Sem dúvida.

De fato, um dos maiores problemas de termos já automatizados nas mentes das pessoas como “ditador” é que eles lhes desencorajam a fazer certas perguntas, pois elas pensam – como você próprio – que essas questões já foram resolvidas e estabelecidas por alguém há muito tempo atrás.

Mas de fato elas não foram resolvidas, de maneira nenhuma.

Em meus artigos eu tenho documentado um grande número de exemplos onde Stalin foi frustrado, não alcançou seus objetivos porque não teve votos suficientes, etc.

Eu tenho encontrado mais exemplos disso do que já publiquei em meus escritos, mas não publico todos simplesmente porque não são relevantes para os temas sobre os quais estou escrevendo.

Mas eu posso te garantir uma coisa: é “politicamente incorreto”, inaceitável para a corrente em voga de anticomunistas (e trotskistas) chegar a essa conclusão a despeito de quaisquer evidências.

“Stalin, o ditador” não é um julgamento baseado em evidência. Ao contrário, é uma afirmação de comprometimento ideológico, como a Imaculada Conceição. Evidência é irrelevante.

O historiador russo Iurii Zhukov, um dos membros da Academia Russa, disse em uma conferência alguns anos atrás (eu tenho o transcrito) que ele nunca viu nenhuma evidência de que Stalin era um ditador. Sua afirmação foi simplesmente ignorada.

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Mário Sousa — O Tratado de Não Agressão Mútua entre a União Soviética e a Alemanha

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Invasão da Polônia por tropas alemãs

Passaram mais de 60 anos desde a assinatura do “Tratado de Não Agressão Mútua” entre a União Soviética e a Alemanha em Setembro de 1939, também conhecido como Tratado Molotov-Ribbentrop. Este Tratado tem sido deturpado e utilizado na guerra-fria das potências ocidentais para desinformar sobre a política da União Soviética, tentando os desinformadores transformar este país num aliado da Alemanha nazi.

Estas campanhas de desinformação continuam ainda hoje com toda a força embora a União Soviética já não exista e os jornais da burguesia tenham dado o comunismo por morto milhares de vezes. Mas a verdade é que o comunismo está bem vivo! O que se pretende com as campanhas contra a União Soviética é combater as simpatias comunistas existentes nas classes trabalhadoras do mundo em que vivemos e defender as injustiças do capitalismo. Por esta mesma razão é importante dar ao público a história do passado e as circunstâncias em que o Tratado de Não Agressão Mútua foi assinado.

Europa em 1939

A situação da Europa de 1939 era dominada por uma grande tensão política e militar, provocada pelos ataques militares e as ocupações levados a cabo pelos países fascistas durante esse decênio. Em Outubro de 1935, a Itália fascista invadiu a Abissínia (Etiópia), que foi totalmente ocupada pelos italianos em 1936 depois de grandes massacres da população. Em 1936, em Espanha, os fascistas iniciaram a guerra civil contra o povo espanhol, que vieram a ganhar dois anos mais tarde depois de receberem uma ajuda militar massiva da Itália fascista e da Alemanha nazi. Em 1936 a Alemanha assinou com o Japão o chamado Pacto Anti-Comintern contra a União Soviética, um pacto ao qual a Itália se juntou pouco tempo depois. Em Março de 1938 a Alemanha nazi anexou a Áustria que deixou de existir como país independente.

A traição à Tchecoslováquia

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Os Sovietes

Post baseado principalmente na obra “URSS, Uma Nova Civilização” escrita por Sidney Webb e Beatrice Webb. Edição de 1938 da Editora Calvino Ltda, RJ.

Os Soviets surgiram em 1905 como órgãos da insurreição armada, concebidos pela criatividade revolucionária das massas populares, como expressão da criação do povo, como manifestação da iniciativa do povo.¹ Soviet significava originalmente qualquer tipo de conselho, em russo совет, ou mais especificamente um Conselho de Deputados dos Trabalhadores, Soldados e Camponeses. Foram primeiramente organizados em maio e junho de 1905, em Ivanovo-Voznessensk (hoje conhecida apenas como Ivanovo) e Kostroma para dirigir a greve dos trabalhadores de indústrias têxteis. Mas não era somente para essa função que eles existiam; também exerciam funções políticas locais. Como dito por Mikhail Nikolayevich Pokrovsky em “Breve História da Russa”, de 1934, no volume 2: “Foi a maior greve que jamais se realizou na Rússia. Nessa ocasião, foi eleito o primeiro Soviet de delegados dos trabalhadores, na Rússia, entre os dias 15 e 18 de maio de 1905. Pela primeira vez, os trabalhadores apresentaram-se como classe consciente, livres da influência dos ‘democratas’ como haviam estado desde o tempo de Gapon².” (pp. 153-154, 189-190).

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Grover Furr — Falsificação de Baberowski

Texto original em inglês: http://msuweb.montclair.edu/~furrg/research/furr-baberowski10.html
Tradução livre minha. Segue o texto traduzido:
 

Nesta redação examino uma afirmação feita pela professor Jorg Baberowski na primeira página de uma dissertação de 2003 entitulada “Zivilisation der Gewalt. Die kulturellen Ursprunge des Stalinismus”. ( http://edoc.hu-berlin.de/humboldt-vl/136/baberowski-joerg-3/PDF/baberowski.pdf ) Essa afirmação é falsa. Baberowski também faz a mesma afirmação falsa na página 175 de seu livro Der Rote Terror.

Baberowski ocupa uma importante cadeira de história na Universidade de Humboldt, Berlim. Ele é um dos historiadores anticomunistas da União Soviética na Era Stalin mais publicados na Europa. Sua proeminência justifica darmos mais atenção a essa dissertação e suas falsidades deliberadas.

Baberowski faz poucas declarações de fato nessa longa dissertação. Das que faz, menos ainda possuem referências a fontes específicas para a evidência em apoio a tais afirmações. Mais raras ainda são as referências a fontes primárias – o único tipo de evidência merecedora do nome.

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Lenin – Sobre os sindicatos, o momento atual e os erros de Trotsky e Bukharin

[1]

V. I. Lênin
30 de dezembro de 1920

Camaradas:

Antes de tudo, devo pedir desculpas por haver infringido o regulamento, pois para participar das discussões teria de ter ouvido, naturalmente, o informe, o co-informe e os debates. Infelizmente, meu estado de saúde não me permitiu. Mas ontem tive oportunidade de ler os documentos mais importantes impressos e de preparar minhas observações. Logicamente, a infração ao regulamento a que me referi, implica em certos inconvenientes para vocês: é possível que faça repetições por não saber o que os outros disseram e não responda o que deveria ser respondido. Mas não pude fazer de outro modo.

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Stalin e culto à personalidade: o grande mito – Parte 2

Stalin e o “culto à personalidade” – O que há de verdade?

Título original: The ‘Cult of The Individual’ (1934-52)

Lido por William Bill Bland no Stalin Society, organização localizada na Grã-Bretanha, em maio de 1991.

(http://www.stalinsociety.org.uk/)

Em 14 de fevereiro de 1956, Nikita Kruschev, então primeiro secretário do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, publicou um obscuro e enviesado ataque contra Stalin no XX Congresso do Partido: “É de suma importância para restaurar e reforçar por todos os meios possíveis o princípio leninista da liderança coletiva. O Comitê Central condena veementemente o culto individual, alheio ao espírito do marxismo-leninismo”. (NS Kruschev:Relatório para o Comitê Central, 20 o Congresso do PCUS , Fevereiro de 1956, Londres 1956, p. 80-81).

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Stalin e culto à personalidade: o grande mito – Parte 1

Agosto de 1930:

“Você fala de sua “devoção” por mim. Talvez esta seja uma expressão que pronunciou acidentalmente. Talvez … Mas se não for uma expressão casual, te aconselho a descartar o “princípio” de devoção pelas pessoas. Não é o estilo bolchevique. Seja devoto da classe operária, do Partido, do Estado. Isso é algo bom e útil. Mas não confunda isso com a devoção das pessoas, esse enfeite vaidoso e inútil dos intelectuais sem caráter.” (Stalin em “Letter to Comrade Shatunovsky.” Works, Volume 13, Moscou, 1955, pág. 20).
http://www.marxists.org/reference/archive/stalin/works/1930/08/x01.htm

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Kurt Gossweiler — A superação do anti-stalinismo

A superação do anti-stalinismo

Uma importante condição para a reconstrução do movimento comunista enquanto movimento marxista-leninista unido

Kurt Gossweiler
1994

Para os marxistas não é de forma nenhuma surpresa que o fim da União Soviética e dos estados europeus socialistas tenha trazido consigo o regresso da guerra à Europa e o início de uma ofensiva geral do capital contra a classe trabalhadora e todo o povo trabalhador. Esta brutal ofensiva do capital só pode ser rechaçada com uma defesa conjunta, unitária, de todos os atingidos. Só por isto é urgentemente necessária a reconstrução de um movimento comunista unido, já para não falar da tarefa de acabar com o domínio do imperialismo. Infelizmente, porém, o movimento comunista ainda está muito longe de ser um movimento unido.

A mim, pelo menos, parece-me que o principal obstáculo à reconstrução da unidade dos comunistas reside menos nas diferenças de opinião sobre as tarefas do presente, do que nas opiniões contraditórias sobre a avaliação do caráter e da política dos países socialistas, em especial da União Soviética, no passado.

Alguns estão convictos de que a URSS e os outros países socialistas da Europa (excluindo a Albânia) não eram países socialistas desde o XX Congresso, mas sim países capitalistas de Estado e consideram como revisionistas todos os que não concordam com este ponto de vista, com os quais não pode haver nada em comum. Outros – como lhes tem sido contado desde o XX Congresso e desde Gorbachev com crescente intensidade – veem em Stalin o destruidor do socialismo, por isso declaram que com os “stalinistas” não pode haver nada em comum. Nesta posição encontra-se a maior parte das organizações que se formaram a partir das ruínas resultantes da decadência dos partidos comunistas e, com efeito, não só aqueles que se assumem abertamente como partidos sociais-democratas, mas também a maioria dos que se consideram partidos comunistas, incluindo o PDS que manobra entre estes dois.

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Grover Furr — Leitura (a)crítica e o discurso do anticomunismo

Grover Furr é professor de História e Literatura Inglesa na Universidade de Montclair, New Jersey.

Publicado em The Red Critique, número 11.

Ainda que oficialmente a Guerra Fria havia terminado, o anticomunismo está muito vivo e presente em todos os tipos de discursos—críticos, históricos e políticos—, gozando de uma grande influência tanto no mundo acadêmico como na sociedade em geral. Durante cerca de três décadas ou mais, o comunismo funcionou como o grande inominável na pós-estruturalista “guerra contra a totalidade”. Os ataques contra o “logocentrismo” do “racionalismo ocidental” foram usualmente dirigidos contra o legado burguês do Iluminismo, mas se analisarmos a linguagem destes ataques, Marx vai aparecer no ponto de vista tanto ou mais que Locke e Rousseau.

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Stalin e a luta pela reforma democrática (II)

Parte 1: https://iglusubversivo.wordpress.com/2012/03/15/stalin-reforma-democratica-1/

Grover Furr (professor de História/Montclair, New Jersey)

http://clogic.eserver.org/2005/furr.html
Tradução: Lúcio Jr
Correção de alguns erros gramaticais: eu mesmo (se tiver mais algum erro, me avisem)

Durante a guerra

1. Quando estava acabando a Segunda Guerra Mundial, Stalin e os seus partidários no Politburo tentaram de novo afastar o Partido Bolchevique do controle direto do governo soviético. Assim é que Yuri Zhukov descreve o que aconteceu:

“Em janeiro de 1944…, pela primeira vez durante a guerra, foi convocado conjuntamente o Comitê Central e uma sessão do Soviete Supremo da URSS. Molotov e Malenkov prepararam um rascunho de um decreto do Comitê Central em que afastava legalmente o Partido do poder. O Partido manteria as suas funções de agitação e propaganda, como também a seleção de quadros; ninguém poderia afastá-lo destas tarefas próprias de partido. O esboço impedia ao Partido intervir nas questões econômicas e no funcionamento dos órgãos do Estado. Stalin leu o rascunho, trocou seis palavras, e escreveu:

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Stalin e a luta pela reforma democrática (I)

Bibliografias, Notas e Notas Adicionais, na parte 2.
O artigo do professor Furr detalha, conforme pesquisas recentes, o papel de Stálin nos anos 30 e 40. O que é  surpreendente é que, ao invés de burocratizar, Stálin e seu grupo cobraram muito dos dirigentes e sempre tentaram introduzir reformas democráticas. No entanto, Stálin nunca teve tanto poder, como se imagina na histografia de hoje.
STALIN E A LUTA PELA REFORMA DEMOCRÁTICA
Grover Furr (professor de História/Montclair, New Jersey)
Tradução: Lúcio Jr.
Primeira parte

Introdução

1. Este artigo sublinha as tentativas de Stalin, desde os anos 30 até a sua morte, em democratizar o governo da União Soviética.

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Stalin — Antissemitismo: Resposta a uma Consulta da Agência Judaica Telegráfica nos Estados Unidos

Em resposta ao seu pedido:

O chauvinismo nacional e racial é uma sobrevivência de costumes anti-humanos próprio do canibalismo. O antissemitismo, como uma forma extrema de chauvinismo racial, é a sobrevivência mais perigosa do canibalismo.

O antissemitismo é útil para os exploradores como um para raios que preserva o capitalismo do golpe dos trabalhadores. O antissemitismo é perigoso para os trabalhadores como um caminho falso que se desvia do caminho certo e leva para a selva. Portanto, os comunistas, como internacionalistas consequentes, não podem deixar de ser inimigos implacáveis e amargos do antissemitismo.

Na URSS, a lei persegue de modo mais rigoroso o antissemitismo como um fenômeno profundamente hostil ao regime soviético. As leis da U.R.S.S. punem com a morte os antissemitas ativos.

Josef Stalin
12 de janeiro de 1931.

Publicado primeiramente no Pravda de 30 de novembro de 1936, edição nº 329.


Tradução do espanhol para o português – Comunidade Josef Stálin (com pequenas modificações minhas, comparando com a tradução da carta para o inglês)

A situação dos judeus na URSS. Do livro “URSS, Uma Nova Civilização”.

Do livro “URSS, Uma Nova Civilização”, por Sidney e Beatrice Webb. 1º volume, Editorial Calvino Limitada, edição de 1938, pp. 200-208.

A situação dos judeus na URSS

BirobidzhanRailwayStation

Estação de trem em Biro­bid­zhan, que é o centro administrativo do Oblast Judaico Autonômo

Não podemos deixar de mencionar uma importante minoria, mais racial e religiosa do que nacional, que constitui mais um problema com que se tem defrontado a União Soviética: a dos judeus. Sob o regime czarista, a opressão contra a mesma era severa e permanente (1). “Quando caiu o regime autocrático, o estrépito da queda soou aos ouvidos dos judeus como o bimbalhar dos sinos da liberdade. Com uma penada, o Governo Provisório aboliu a complicada rede legislativa organizada contra os judeus. Subitamente, foram eliminadas as correntes que os prendiam. Desapareceram todas as restrições… Os judeus podiam agora manter a espinha dorsal verticalmente e olhar o futuro sem receio” (2).

Infelizmente haveria ainda três ou quatro anos de guerra civil e de fome, durante os quais, à mercê dos exércitos invasores, a massa das populações judias haveriam de sofrer os maiores excessos. De um modo geral, os Exércitos Brancos eram extremamente brutais, enquanto que o Exército Vermelho fazia o possível para proteger essas pobres vítimas, apesar de- por esta ou por aquela razão, a maioria dos judeus não serem simpáticos, por algum tempo, ao Governo Bolchevista. A condenação do comércio baseado no lucro, que foi classificado como usura, feriu profundamente os judeus da Rússia Branca e da Ucrânia, cujas famílias haviam sido, durante séculos, excluídas da agricultura e de outras profissões, ficando confinadas em certos bairros das cidades. Em 1921, a Nova Política Econômica tornou possível a muitos deles voltar aos seus negócios. Mas, por volta de 1928, a campanha coletivista desencadeada por penalidades em dinheiro e medidas policiais, liquidaram praticamente todos os pequenos empreendimentos financeiros a que se dedicavam as famílias judaicas. Só os artesãos ficaram em condições um pouco melhores e os jovens, por sua vez, podiam pelo menos obter emprego nas fábricas do governo.

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Figuras do Movimento Operário: Stálin (por Jacob Gorender)

Fonte: Problemas – Revista Mensal de Cultura Política nº 23 – Dez de 1949.

I — Primeiras Experiências Revolucionárias

Stálin nasceu a 21 de dezembro de 1879, na cidade de Gori, na Geórgia. Seu pai foi sapateiro artesão e, depois, operário numa fábrica de calçados Sua mãe era filha de um antigo camponês servo. Desde cedo, conheceu a opressão e a miséria em que vivem as massas trabalhadoras.

Stálin estudou no seminário de Gori e depois no de Tiflis. Reagiu ao ambiente obscurantista do seminário e aos ensinamentos reacionários dos monges. Interessou-se pela literatura progressista da Geórgia e dá Rússia. A sua curiosidade intelectual era insaciável. Tanto se dirigia para os grandes escritores clássicos como para as obras de sociologia e ciências naturais, que abordavam as questões de um ponto de vista avançado. A leitura dessas obras custou a Stálin diversas punições no seminário.

Aos quinze anos, Stálin entra no movimento revolucionário, ligando-se com os grupos ilegais de marxistas russos, que viviam então na Transcaucásia, da qual a Geórgia faz parte. Stálin começa a ler obras de Marx, Engels e de Lênin, que, naquela época já havia iniciado a sua genial atuação de dirigente comunista.

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