Augusto Machado — “O caminho do inferno é pavimentado de boas intenções”: ensaio sobre o anarquismo

Via Blog BRADO!

Obs.: Alguns erros de digitação foram corrigidos pelo Iglu Subversivo.

Gustave Doré

A “esquerda” é definida pela disposição de suspender marco moral abstrato, ou parafraseando Kierkegaard, de realizar uma suspensão política do Ético.
Zizek

O leninista, visto que persegue uma ação de classe, abandona a moral universal, mas esta lhe será devolvida no universo novo dos proletários de todos os países.[…] A política é, por essência, imoral.
Ponty

Nas últimas décadas, o fim do bloco socialista e a deterioração de Estados e Partidos comunistas que se tornaram revisionistas, como é o caso chinês, ou reformistas, como os PC’s de todo o mundo, tem aberto um terreno fértil para outras teorias socialistas não-marxistas, já que o marxismo e sua proposta política teria perdido grande parte de sua legitimidade com os fracassos citados. O anarquismo é uma dessas teorias. A atrativa crítica ao “autoritarismo” e ao “totalitarismo estatal” de tipo leninista parece explicar as causas do fracasso e apontar um futuro promissor e renovado para a revolução. Os anarquistas tomam a derrota do movimento comunista do século XX e tentam com isso descartar o marxismo enquanto alternativa do horizonte político. Teóricos que perdiam cada vez mais sua influência nos movimentos revolucionários, à época, com o avanço do socialismo inspirado no marxismo, retornam das cinzas, e este, antes influência quase única vai perdendo terreno, não só para o anarquismo, mas para outras variantes mais tradicionais ou mais ecléticas.

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A Revolução Maoísta no Tibete — Parte 4

A Opressão Retorna — Depois do Golpe na China

Duas Linhas Se Enfrentam no Tibete

Os revolucionários maoístas combateram forças poderosas dentro do Partido Comunista que queriam impor um caminho capitalista à China, incluindo o Tibete. Na Parte 3, descrevemos o programa desses “caminhantes capitalistas” – cujos líderes incluíram Deng Xiaoping. Eles se chamavam “comunistas” e falavam em construir um “poderoso Estado socialista moderno”, mas eles realmente queriam era parar a revolução depois de abolir o feudalismo. Mao Tsé-tung considerou que essas forças eram inimigos amargos da revolução – ele os chamou de “revisionistas”, “negociantes capitalistas” e “comunistas falsos”. Mao viu que sua imitação de métodos capitalistas “eficientes” traria a polarização de classe e a exploração capitalista de volta para a China. O resultado seria que a China mais uma vez seria penetrada e dominada por investidores e exploradores estrangeiros.

O contraste entre a linha comunista revolucionária de Mao e a linha capitalista dos revisionistas é muito claro em todas as questões relacionadas ao Tibete.

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Resposta à animação “Os Invencíveis”, do Instituto de Memória Nacional da Polônia — Parte 3

Leia também a Parte 4.

Rússia refresca memória da Polônia sobre ajuda soviética ao país durante 2ª Guerra Mundial

Enquanto a Polônia tenta eliminar quaisquer vestígios da União Soviética de sua história, o Ministério da Defesa russo desclassificou documentos que comprovam assistência maciça soviética aos poloneses nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial.

Os documentos do Arquivo Central do Ministério da Defesa “nunca antes publicados para livre acesso”, detalham o apoio recebido pela Polônia da União Soviética durante libertação dos nazis entre 1944 e 1945. De acordo com os papéis, a URSS fornecia aos poloneses nas áreas libertadas “comida, medicamentos, veículos, combustível e matéria-prima para empresas industriais”.

Por exemplo, “durante março e novembro de 1945, mais de 1,5 bilhão de rublos (cerca de 930 milhões de reais) nos preços de produtos alimentícios de 1945 foram dados para a população polonesa e empresas agrícolas do país”.

Além do mais, o Exército Vermelho se envolveu na reconstrução de ferrovias e pontes, que foram bombardeadas pelas forças nazis antes de serem expulsas da Polônia.

O Ministério da Defesa da Rússia publicou também o acordo entre o comando soviético militar e o governo provisório polonês em relação ao destino do equipamento industrial e outras propriedades abandonadas pelos nazis no país. “Nota-se que todas as usinas [alemãs] e equipamento na Polônia sem exceções foram entregues aos poloneses. Desmontagem e transferência foram rigorosamente proibidas”, diz-se nos documentos.

Em junho, o parlamento polonês adotou um pacote de emendas legislativas para proibir qualquer propaganda relacionada ao comunismo ou qualquer outro regime totalitário em edifícios e estátuas. Há alguns dias, autoridades locais da cidade de Szczecin deram início à destruição do monumento em homenagem aos soldados soviéticos. Muitos outros monumentos no país correm o risco de ser destruídos da mesma forma.

O embaixador russo na Polônia, Sergey Andreev, criticou a lei polonesa anticomunista. Em entrevista ao canal RT, ele disse: “Qual é a ligação entre os monumentos e propaganda comunista? Foram erguidos para homenagear 600.000 soldados soviéticos e oficiais que morreram durante a libertação da Polônia entre 1944 e 1945. Trata-se de monumentos dedicados às pessoas que salvaram a Polônia, pois somente graças a eles, a Polônia existe hoje em dia, caso contrário não existiria nem comunismo nem capitalismo, tampouco poloneses como povo.”

A publicação dos documentos pelo Ministério da Defesa se enquadra no projeto digital “Memória contra o esquecimento” que visa preservar exatidão histórica e prevenir sua falsificação.

Fonte: Sputnik News

Jason Unruhe — O Livro Negro do Comunismo Desmascarado

Traduzido por Nathan Palmares

Nota do tradutor: No final do artigo, junto com as fontes em que o autor cita todas elas em inglês, deixarei material em português que também ajuda a entender e desmascarar muitas das mentiras, absurdos e bobagens contidas no “Livro Negro do Comunismo”.


 

O Livro Negro do Comunismo Desmascarado

Por Movimento Internacional Maoísta
Primeira edição por Leading Light Communist Organization*
Segunda edição por The Maoist Rebel

O Livro Negro do Comunismo, é uma das distorções mais flagrantes da história. Os números de mortes fraudulentos contidos no livro, são a única fonte do livro mais anti-comunista citado no mundo. O livro esmaga o socialismo e tenta o tornar pior do que o fascismo, sem rodeios, tenta retratar o fascismo como uma coisa boa.

O livro é tão tendencioso e absolutamente sem sentido que em 2001 o Movimento Internacional Maoísta informou a Harvard University Press de seus erros inegáveis. Como resultado o Movimento Internacional Maoista conseguiu com que Mark Kramer admitisse que o livro continha erros matemáticos propositais.

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Stalinismo e Anti-Stalinismo? — Parte 2

Leia a parte 1: Stalinismo e Anti-Stalinismo? — Parte 1

Além disso, deve-se notar:

Se Khrushchev e Gorbachev, em sua acusação contra Stalin, foram guiados pelo desgosto pela desumanidade, teriam que condenar o imperialismo de maneira semelhante, mas para eles estavam buscando confiança e atribuindo-lhe a capacidade de paz. Em contraste com isso, está a avaliação extremamente positiva de Stalin pelo embaixador dos EUA, Joseph Davies, que também acompanhou os julgamentos de Moscou.

Além das críticas históricas da pessoa de Stalin, considerações politico-teóricas também desempenham um papel na deslegitimação dele. O colapso dos países socialistas europeus, especialmente a União Soviética, teria servido como prova da correção da tese trotskista da impossibilidade de se construir o “socialismo em um só país”, geralmente negando que não era Stalin, mas Lenin, que em 1915 considerou a possibilidade do “socialismo em um só país”. A impossibilidade da completa vitória, definitiva do socialismo num só país sem a vitória da revolução não menos importante em um número de países, é a impossibilidade de uma garantia total contra a intervenção e, consequentemente, contra a restauração da ordem burguesa. Isso adiaria a revolução socialista para o dia de São Nunca. Mas Stalin não só defendeu a tese de Lenin, como também provou ao PCUS que tanto a construção socialista em um país quanto a disputa contra os agressores fascistas eram possíveis.

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A revolução maoísta no Tibete – Introdução

Por Mike Ely

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Em 17 de outubro de 2007, George W. Bush condecora o 14º e atual Dalai Lama, Tenzin Gyatso, com a mais alta premiação do Congresso dos EUA, a Medalha de Ouro do Congresso.

Tibete é o lugar onde o “conhecimento comum” se confronta fortemente com a realidade.

A sociedade pré-revolucionária tibetana é descontroladamente romantizada, de modo que muitas pessoas têm muito pouco senso sobre a brutalidade e horrível atraso imposto por uma teocracia de monges. Com base nesse mito, a chegada das forças revolucionárias pode ser retratada como uma invasão estrangeira. E, graças à propaganda dos monges exilados, as décadas seguintes de socialismo são retratadas como um genocídio.

Os fatos são muito diferentes, como você verá nas páginas seguintes.

Este livro passou por uma série de impressões em vários países, uma vez que foi originalmente publicado como uma série de 1998 no jornal Revolutionary Worker. Desde então, novos estudos e reflexões iluminam esses eventos históricos. No entanto, acredito que a análise e as descrições aqui ainda se mantêm bem.

Comentários e críticas são bem-vindos.

1: Quando os Dalai Lamas Governavam: Inferno na Terra

Discute como a velha sociedade tibetana era um lugar extremamente opressivo: a grande maioria das pessoas eram escravizadas, brutalizadas e exploradas por uma minúscula classe dominante de aristocratas e dos altos lamas (sacerdotes budistas).

2: Assalto ao Céu e 3: Guardas Vermelhos e As Comunas Populares

Como os maoístas organizaram a classe oprimida do Tibete para se libertarem – aproveitando a terra dos antigos exploradores, abolindo os privilégios feudais seculares, desafiando o estrangulamento da superstição e desenvolvendo novas formas coletivas de propriedade e poder.

4: A Opressão Retorna — Depois do Golpe na China

Em 1976, um golpe anti-maoísta no Partido Comunista trouxe mudanças profundas para a China e para o Tibete. Esta restauração do capitalismo inverteu as políticas de Mao em todas as áreas: como resultado, ricos e pobres voltaram a surgir no campo do Tibete, as políticas “chauvinistas Han” ameaçam a cultura e os direitos dos povos minoritários como os tibetanos e o poder militar do Estado é dirigido contra as próprias pessoas.

5: Vida sob o Dalai Lama no Exílio

Sobre a natureza de classe das forças do Dalai Lama no exílio – descrevendo como a classe dominante tibetana exilada ajudou a criar um exército contra, apoiado pela CIA, e como eles organizaram uma sociedade de classes opressiva nos campos de exilados tibetanos.

6: Os sonhos terrestres do Dalai Lama

Uma análise inicial da política atual da natureza de classe do Dalai Lama – suas propostas de autonomia dentro de uma China capitalista e por que elas não têm nada a ver com a libertação do povo tibetano.

 

Publicado em dezembro de 2007


 

O blog Iglu Subversivo irá aos poucos traduzir esse livro e postar todos os capítulos anteriormente citados, conforme a disponibilidade de tempo, editando os títulos de cada capítulo aqui citado que serão linkados aos novos posts.

Acompanhem!

Falácias liberais de Internet

Com certeza os piores conceitos sendo propagados ultimamente são os dos liberais fanáticos, que geralmente atuam apenas na Internet, porque na vida real sobrevivem apenas com a própria força de trabalho (ou seja, são proletários).
Sugestões e complementações nos comentários são bem-vindas.
1) “Capitalismo é setor privado e socialismo é setor estatal”.
O capital surge por um processo de transformação de dinheiro independente de ser numa empresa privada ou numa empresa estatal. Esse processo já foi estudado a fundo por Marx e qualquer liberal honesto compreende e concorda com ele (a diferença é que o liberal justifica o roubo dos frutos do trabalho da classe trabalhadora).
2) “Imposto é coisa de socialista”.

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Stalinismo e Anti-Stalinismo? — Parte 1

Eckhard Roth

Artigo no Die Rote Fahne, jornal do Partido Comunista Alemão
(Kommunistische Partei Deutschlands – KPD)

Edição de Maio de 2008

Título original: “Stalinismus oder Anti-Stalinismus?”

No começo de um artigo que faz uma avaliação política de Stalin, primeiro deve-se concordar com os termos usados. Se notamos que há um “marxismo” ou um “leninismo”, é ingênuo assumir que a observação sugere haver um “stalinismo” lógico. Apesar de existirem camaradas que orgulhosamente se consideram stalinistas, é preciso notar que o termo “stalinismo” tem uma origem burguesa e é provido de conteúdo negativo. Atribui-se aos termos “marxismo” e “leninismo” principalmente os benefícios teóricos dos mesmos, enquanto “stalinismo” é descrito como despotismo sanguinário e falsificador dos princípios leninistas. Assim, é necessário afirmar que “stalinismo” é um termo da luta burguesa, que pode encontrar um lugar no vocabulário da esquerda marxista. Ao invés disso, o lógico é falar em anti-stalinismo, como fez Kurt Gossweiler no seminário internacional do partidos comunistas e de trabalhadores em Bruxelas, 1º de Maio de 1994.

Deve ser clarificado agora o conteúdo desse termo burguês e que função ele tem.

O termo Stalinismo leva a revisões parcialmente gerais e revisões parcialmente específicas. No caso geral, é de se notar que qualquer revolução custará a vida de pessoas inocentes, como tem custado já, e que qualquer revolucionário é mostrado pela contrarrevolução como um “assassino”: Müntzer, Cromwell, Robespierre, Lenin, Liebknecht, Luxemburgo e Stalin.

No caso específico, é preciso comentar sobre os Processos de Moscou, que são exibidos pela burguesia como “anos de terror” ou “Grande Expurgo”. Naquela época, era evidente que um confronto militar com a superpotência beligerante, o Reich [Nota do Editor: Império] Alemão, estava em andamento. Havia também o aparato militar de diversos colaboradores do nazismo. No aparato político, havia grupos anti-partido do lado da esquerda – e desvios de direita. De acordo com observadores estrangeiros, os Processos de Moscou foram conduzidos de maneira justa. A opinião da maioria dos diplomatas que atenderam às negociações era de que foi comprovado que os acusados claramente eram conspiradores com o propósito de eliminar o governo e assim a ofensiva da traição se tornou conhecida. Entretanto, também era conhecida a ideia de que os processos foram puramente produções, o que foi considerado como apropriado por alguns observadores com fins propagandísticos. Os Processos de Moscou foram entendidos como uma preparação para a guerra, tendo em vista o incipiente ataque fascista. Os eventos em Moscou devem então ser considerados numa relação causal. Através dessa limpeza, a quinta-coluna hitlerista foi impedida de atuar na Rússia.

Leia a parte 2: Stalinismo e Anti-Stalinismo? — Parte 2

Do “eurocomunismo” ao oportunismo dos nossos dias — Forxa! Colectivo Marxista-Leninista

Fonte em galego: Forxa! Colectivo Marxista-Leninista
Fonte em espanhol: Exemplar nº 2 da Revista Comunista Internacional

Traduzido do espanhol ao galego por FORXA!
Traduzido do galego ao português por Rodrigo, o administrador do blog Iglu Subversivo.
togialtti

Togliatti em selo soviético de 1964 – era do restauracionismo do capitalismo na URSS

A título de introdução.

A reorganização teórica e ideológica do movimento comunista internacional, sobre uma base marxista-leninista sólida, exige continuar aprofundando no estudo da construção do socialismo durante o século XX e analisar cientificamente as causas do triunfo da contra-revolução capitalista na URSS e no resto dos países socialistas europeus.

A restauração capitalista teve causas internas e externas. No entanto, quando se trata de abordar estas últimas, as análises tendem a se concentrar no estudo das diversas linhas de ataque ao socialismo postas em prática pelas potências imperialistas no campo político, militar, econômico, ideológico e psicológico.

Os fatores externos foram determinantes e confirmaram que o confronto entre o campo imperialista e o campo socialista era a expressão genuína da luta de classes em escala internacional [1]. No entanto, deve-se aprofundar no estudo de tendências como a eurocomunista que contribuíram para debilitar o poder socialista, atuando no seio do movimento operário e do movimento comunista internacional, e interagiram muitas vezes com as políticas oportunistas de partidos comunistas e operários que se encontravam no poder.

Os centros ideológicos do imperialismo prestaram assistência e divulgaram amplamente as posições eurocomunistas, contra as linhas que denominavam respectivamente “ortodoxa” ou “pró-soviética”. O eurocomunismo, representado principalmente pelos partidos da Itália, França e Espanha, deve o seu nome às agências de imprensa capitalistas que, com tal denominação, faziam referência às organizações que partilham a defesa de uma série de pontos de vista:

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O projeto “popular” do PT

Texto de um dos amigos do blog Grande Dazibao

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FHC, Renato Mosca, Dilma, Lula, Sarney e Collor

Os ideólogos da camarilha oportunista-reformista hoje no poder (PT-PCdoB-PDT-PPS…) fazem uso de argumentos retirados da ciência do Marxismo-Leninismo para justificar sua política pró-imperialista. Afirmam que o PT está implementando no Brasil um projeto democrático-popular de governo, com a única diferença de que não teríamos precisado passar por uma revolução para isso. Afirmam que o PT está realizando o que a esquerda revolucionária tentou implementar ,país em outros tempos , apenas que por meio da democracia. Criticam a atual esquerda revolucionária , afirmando que ingenuamente defendem que o socialismo seja implantado o quanto antes no país, quando é necessário alargar as conquistas democráticas. Estaria então toda a esquerda revolucionária defendendo uma estratégia sem sentido de revolução , quando a democracia está sendo guiada por pessoas “progressistas”. Eis, em resumo, os argumentos apresentados pelas marionetes do governo petista.

A questão é: existe mesmo um governo democrático-popular em nosso país?

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Natureza humana

Tradução de um artigo que li no International Socialist Review. Ele se inicia com um post que apareceu dia 31 de julho de 2007 no blog Darwinian Conservatism, por Larry Arnhart. Depois, há a resposta de Phil Gasper. Seguem os textos.

“Humanos instintivamente buscam o poder”, por Larry Arnhart

A edição de julho / agosto da International Socialist Review tem um artigo escrito por Phil Gasper criticando meu argumento de conservadorismo darwiniano.

Gasper insiste que Karl Marx e Friedrich Engels aceitaram a ciência de Darwin, o que mostra que a ideologia da esquerda socialista é compatível com o darwinismo. Mas Gasper não diz a seus leitores que Marx e Engels criaram uma dicotomia entre a natureza animal e a cultura humana, de modo que eles poderiam dizer que a ciência darwiniana explica o mundo natural dos animais e do corpo humano, mas não o mundo exclusivamente humano da história cultural . Embora outros animais tenham alguma capacidade para o trabalho, Marx afirmou que somente os seres humanos tem a capacidade para o trabalho intencional sobre o mundo para estar de acordo com algum plano na imaginação. Ao mudar o mundo natural para satisfazer suas necessidades, o homem também “muda sua própria natureza.” Isso permite a Marx proteger sua visão utópica de perfectibilidade socialista de ser subvertida pelo naturalismo darwiniano. Essa mesma tendência socialista de olhar o ser humano como capaz de uma liberdade utópica transcendente da natureza se manifesta na atração de Gasper à visão de Stephen Jay Gould da liberdade transcendental humana.

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Hugo R. C. Souza – Empreendedorismo é lema das classes dominantes

Ideologia dominante e alienação do proletariado.

O patronato no Brasil comemora a ascensão de um novo ítem na pauta de exportações do País: O empreendedorismo. Não, não é nenhum bem de consumo, não se trata tampouco de bem de capital. Matéria prima? Talvez, mas não exatamente aquilo que conhecemos como commodities, que são mercadorias como frutas, grãos e minérios, cuja produção e venda aos países ricos é uma tarefa que cabe a nações como o Brasil na divisão internacional do trabalho. O novo vilão descoberto pelos capitalistas de segundo escalão que operam no Brasil é a campanha, ora em pleno vigor, para convencer os trabalhadores de que “o espírito empresarial” é o valor supremo a ser cultivado no mundo atual.

Pois agora uma dúzia de mercadores reunidos na Confederação das Associações Comerciais do Brasil (ACCB) descobriu um grande negócio em levar cursos e material didático de elogio ao capitalismo a países como Moçambique, Chile, Colômbia e México. Não por acaso os alvos são países da América Latina e da África, continentes onde o descontentamento das classes populares com as promessas do livre mercado e da democracia burguesa preocupa o poder econômico internacional e as elites locais. A necessidade faz o sapo pular. Acossados pela indignação das massas com os modelos e políticas de miséria, a demanda passou a ser, além de bananas e laranjas, também de “know-how” em matéria de empulhação.

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