Ações do governo de Beata Syzdlo ameaçam Justiça da Polônia segundo a União Europeia

via Aumento da xenofobia e do neofascismo na Polônia coloca em risco permanência do país na UE

Aumento da xenofobia e do neofascismo na Polônia coloca em risco permanência do país na UE

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Para Bruxelas, as recentes ações do governo, chefiado pela primeira-ministra ultraconservadora Beata Szydlo, ameaçam a ‘independência e a legitimidade’ da Justiça.

Membro de destaque da União Europeia, a Polônia virou motivo de preocupação em Bruxelas por conta das ações da política no poder Judiciário e do crescimento de movimentos neofascistas, como ficou explícito na marcha que reuniu cerca de 60 mil pessoas em Varsóvia no último fim de semana.

No atual cenário, a Polônia já é protagonista dentro de um bloco que ainda tenta encontrar seu caminho, não apenas por ocupar a presidência do Conselho Europeu, na figura de Donald Tusk, mas também por ter aglutinado em torno de si os países descontentes com as políticas migratórias e de integração da UE.

A Polônia lidera o grupo Viségrad, que também reúne Hungria, Eslováquia e República Tcheca e representa o principal entrave para o programa de realocação de solicitantes de refúgio dentro da União Europeia, tema que já provocava atritos com suas maiores potências: Alemanha, França e Itália.

No entanto, o cenário que vem se desenhando em 2017 aumentou a preocupação de Bruxelas com o que acontece na Polônia. Na última quarta-feira (15/10), o Parlamento Europeu aprovou, por ampla maioria, uma resolução que diz que os valores fundamentais da UE estão “em risco” no país.

O motivo é a sanção pelo presidente da Polônia, Andrzej Duda, em julho passado, de uma lei que dá ao Ministério da Justiça, cujo chefe já exerce o cargo de procurador-geral, a prerrogativa de nomear líderes de tribunais de direito comum.

Duda vetou textos que davam ao governo o papel de indicar integrantes da Suprema Corte e submetiam o Conselho Nacional de Magistratura, órgão regulador do Judiciário, ao Parlamento, mas não foi suficiente para evitar a abertura de um procedimento de infração contra o país.

Para Bruxelas, as recentes ações do governo, chefiado pela primeira-ministra ultraconservadora Beata Szydlo, ameaçam a “independência e a legitimidade” da Justiça. Além disso, a resolução de quarta-feira prevê a mais dura sanção contra um Estado-membro que viole valores fundamentais da UE: a suspensão do direito a voto no Conselho Europeu, principal órgão político do bloco.

Nos próximos dias, a Comissão de Liberdades Cívicas do Parlamento Europeu formalizará o pedido ao Conselho, alegando preocupações em relação à separação de poderes. A resolução também pede para a Polônia condenar a marcha “xenófoba e fascista” realizada em Varsóvia em 11 de novembro, Dia da Independência.

O ato nacionalista foi convocado por movimentos de extrema direita e também teve a presença de neofascistas de toda a Europa, como Roberto Fiore, líder do partido Força Nova. A manifestação foi marcada por slogans xenófobos, antissemitas e de supremacia branca.

Do palco, oradores lançaram apelos contra liberais e pediram a defesa dos “valores cristãos”. O presidente Duda condenou o teor fascista do ato, mas a emissora pública TVP descreveu os manifestantes como “patriotas que expressaram o próprio amor pelo país”.

OperaMundi

Resposta à animação “Os Invencíveis”, do Instituto de Memória Nacional da Polônia — Parte 4

O Massacre de Katyn

Contexto

No dia 13 de Abril de 1943, a imprensa nazista anunciou que haviam sido encontradas valas comuns na Floresta de Katyn próximo a Smolensk, contendo os corpos de milhares de oficiais poloneses alegadamente assassinados pelos russos. O plano era minar as relações entre soviéticos e poloneses. Três dias depois, o governo soviético nega as acusações alemãs.

A insistência do líder do governo polonês no exílio, o General Władysław Sikorski, em endossar a propaganda alemã levou ao completo desastre nas relações entre o governo polonês em exílio em Londres e o governo soviético – como Goebbels comentou em seu diário:

“Esta quebra representa uma vitória de 100 por cento para a propaganda alemã e, especialmente, para mim pessoalmente… nós fomos hábeis em converter o incidente de Katyn em uma questão altamente política…”

O objetivo de Sikorski era disputar a fronteira a leste da Linha Curzon.

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Resposta à animação “Os Invencíveis”, do Instituto de Memória Nacional da Polônia — Parte 3

Leia também a Parte 4.

Rússia refresca memória da Polônia sobre ajuda soviética ao país durante 2ª Guerra Mundial

Enquanto a Polônia tenta eliminar quaisquer vestígios da União Soviética de sua história, o Ministério da Defesa russo desclassificou documentos que comprovam assistência maciça soviética aos poloneses nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial.

Os documentos do Arquivo Central do Ministério da Defesa “nunca antes publicados para livre acesso”, detalham o apoio recebido pela Polônia da União Soviética durante libertação dos nazis entre 1944 e 1945. De acordo com os papéis, a URSS fornecia aos poloneses nas áreas libertadas “comida, medicamentos, veículos, combustível e matéria-prima para empresas industriais”.

Por exemplo, “durante março e novembro de 1945, mais de 1,5 bilhão de rublos (cerca de 930 milhões de reais) nos preços de produtos alimentícios de 1945 foram dados para a população polonesa e empresas agrícolas do país”.

Além do mais, o Exército Vermelho se envolveu na reconstrução de ferrovias e pontes, que foram bombardeadas pelas forças nazis antes de serem expulsas da Polônia.

O Ministério da Defesa da Rússia publicou também o acordo entre o comando soviético militar e o governo provisório polonês em relação ao destino do equipamento industrial e outras propriedades abandonadas pelos nazis no país. “Nota-se que todas as usinas [alemãs] e equipamento na Polônia sem exceções foram entregues aos poloneses. Desmontagem e transferência foram rigorosamente proibidas”, diz-se nos documentos.

Em junho, o parlamento polonês adotou um pacote de emendas legislativas para proibir qualquer propaganda relacionada ao comunismo ou qualquer outro regime totalitário em edifícios e estátuas. Há alguns dias, autoridades locais da cidade de Szczecin deram início à destruição do monumento em homenagem aos soldados soviéticos. Muitos outros monumentos no país correm o risco de ser destruídos da mesma forma.

O embaixador russo na Polônia, Sergey Andreev, criticou a lei polonesa anticomunista. Em entrevista ao canal RT, ele disse: “Qual é a ligação entre os monumentos e propaganda comunista? Foram erguidos para homenagear 600.000 soldados soviéticos e oficiais que morreram durante a libertação da Polônia entre 1944 e 1945. Trata-se de monumentos dedicados às pessoas que salvaram a Polônia, pois somente graças a eles, a Polônia existe hoje em dia, caso contrário não existiria nem comunismo nem capitalismo, tampouco poloneses como povo.”

A publicação dos documentos pelo Ministério da Defesa se enquadra no projeto digital “Memória contra o esquecimento” que visa preservar exatidão histórica e prevenir sua falsificação.

Fonte: Sputnik News

Resposta à animação “Os Invencíveis”, do Instituto de Memória Nacional da Polônia — Parte 2

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A luta dos comunistas dentro dos campos de concentração

O vídeo esconde o fato de que os maiores levantes armados ocorridos em campos de concentração, como o do Gueto de Varsóvia, foram liderado por jovens comunistas e de outras matizes de esquerda.

Era comum a ideia de que essa perseguição nazista era mais um fardo que o povo judeu deveria carregar e aguentar; isso denota a inserção de uma ideologia de colaboracionismo com os nazis dentro dos campos. Porém, nem todos pensavam dessa forma. Contra essa desmoralização, círculos rebeldes auto-organizados se formaram; seções do Gueto eram compostas por indivíduos de esquerda: social-democratas, socialistas-sionistas e comunistas. Todos os partidos – o Partido Comunista polonês; o Bund, organização judia de massas social-democrata; o grupo de jovens marxistas-sionistas Hashomer Hatzair; e o partido sionista de esquerda Po’alei Zion se dedicaram à estratégia de organizar células que buscavam reviver atitudes coletivistas, entre uma juventude judia emocionalmente paralisada e desmobilizada.

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Resposta à animação “Os Invencíveis”, do Instituto de Memória Nacional da Polônia — Parte 1

Leia também a Parte 2.

Esse instituto produziu uma animação gráfica de viés nacionalista sobre a Polônia, denominada “Os Invencíveis”, que segundo o qual retrata “a história da luta pela liberdade do povo polonês contra as ocupações dos regimes nazista e soviético”.

O vídeo é repleto de incoerências históricas, com um raciocínio simplista que vem acompanhado do sensacionalismo tanto na forma de escrita quanto nas imagens. Isso joga vários véus sobre a realidade histórica e presta um desserviço a quem precisa ter acesso a alguma informação fidedigna sobre os fatos enunciados.

Não é nem mesmo explicado o contexto político que levou à assinatura do tratado de não agressão entre a URSS e a Alemanha, que não tinha nenhuma relação com qualquer plano “para destruir a Polônia”. São ocultados todos os fatos que precederam a invasão nazista, algo útil para alimentar o discurso de que supostamente havia uma espécie de conluio maléfico entre os dois países. Tentam destruir o resgate da memória da resistência armada da esquerda contra o nazismo, de dentro dos campos de concentração. Confiam na propaganda que jogou a responsabilidade pelo Massacre de Katyń nas mãos dos soviéticos. Escondem a ascensão do fascismo, tanto na Polônia quanto em alguns outros países que compunham o que a burguesia chama de “Bloco de Varsóvia”, que continuou atuando mesmo depois da guerra.

Os longos parágrafos que se seguem tentam dar uma resposta a esses ataques mentirosos, tendo um compromisso sério com a verdade, sem apelar para a distorção de fatos históricos com o objetivo de alimentar determinada retórica político-ideológica.

Nesta primeira parte, o foco será dado ao Tratado de Não Agressão Mútua, pelo qual o vídeo passa muito rapidamente – com uma afirmação sensacionalista de duas linhas: “Em 23 de agosto de 1939, Hitler e Stalin firmaram um pacto secreto. O objetivo era destruir a Polônia”.

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Muro de Berlim — Parte 2 — A visão dos EUA; derrubada do Muro: plano arquitetado por uma minoria

Leiam também as postagens sobre o levante húngaro de 1956, que servem como complemento

Muro de Berlim, parte 1: https://iglusubversivo.wordpress.com/2011/08/11/muro-de-berlim-1/

Muro de Berlim, parte 3: https://iglusubversivo.wordpress.com/2011/08/11/muro-de-berlim-3/

Trechos do livro 1989: O Ano Que Mudou o Mundo, escrito por um jornalista estadunidense (anticomunista)

Depois de duas décadas e de muita pesquisa, agora sei que nossa vitória na Guerra Fria não foi o que parecia. Fiquei sabendo que as coisas implesmente não aconteceram do jeiuto que pensamos. E, o que é mais doloroso, os mitos que criamos em torno disso prejudicaram o mundo e a nós mesmos. Quais são esses mitos, que aceitamos como verdades? Primeiro, o povo. A maioria dos relatos de 1989 resume-se a uma simples trama de mão única: os cidadãos da Europa Oriental, reprimidos havia muito tempo, frustrados pela pobreza e falta de liberdade, e inspirados por nosso exemplo, ergueram-se em massa e derrubaram seus suseranos comunistas. Bom, sim e não. Em alguns países, foi mais ou menos isso que aconteceu. Mas em outros não houve nada disso.

Trata-se de uma visão tectônica, a história como interação de forças gigantescas e quase inevitáveis. Mas, para quem estava em campo, as coisas pareciam bem diferentes. Se estivesse lá na noite em que o Muro de Berlim caiu, você saberia que as coisas aconteceram daquela maneira graças a um acidente inesperado, um pequeno e totalmente humano erro crasso.

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