O trotskismo e a imprensa burguesa

Uma forma de lançar luz sobre a essência contra-revolucionária do trotskismo é examiná-lo no contexto das suas relações com a imprensa burguesa. E bem sabido que a imprensa imperialista desabona e denuncia todas as idéias marxistas e todos os marxistas. Mas como essa imprensa trata Trotsky, supostamente o maior bolchevique depois de Lênin? Eis aqui alguns exemplos:

O Daily Express, de Lord Beaverbrook, era em 1929, como é hoje, um jornal reacionário, da ala direita, imperialista. Dentre os conservadores, é um dos órgãos efetivos de propaganda imperialista, exercendo há décadas uma tremenda influência imperialista sobre a política de uma seção significativa da classe operária britânica. Quando dezenas de milhares de operários estavam sob a influência de seu conservadorismo estridente olharam para o Daily Express em 27 de fevereiro de 1929, viram-se lendo as seguintes manchetes esparramadas na sua primeira página:

“A HISTÓRIA DA EXPULSÃO DA RÚSSIA CONTADA PELO PRÓPRIO TROSKY:

Revelações Dramáticas do Revolucionário Banido: Como Ele Foi Levado às Pressas para a Turquia: Ataques Severos a Stalin, seu Principal Inimigo; O Uso da Força contra um Povo Rebelde: Um Documento Histórico: Fotografias de M. e Madame Trotsky: História Exclusiva do Próprio Trotsky, por Leon Trotsky.

O Daily Express publica hoje a primeira parte da história, pelo próprio Trotsky, de sua expulsão da Rússia Bolchevique que ele tanto ajudou a criar. E um documento histórico. Trotsky, doente e exilado em Constantinopla, onde está protegido por oficiais russos contra o perigo de assassinato, dramaticamente quebrou o seu longo silêncio. Ele acusa amargamente seu arquiinimigo Stalin, ditador da Rússia, pelo destino que lhe coube, prevê a queda de Stalin, critica o regime soviético atual e revela a história secreta dos acontecimentos que o levaram a se tornar um exilado político sem um tostão.”

O Daily Express a seguir comenta os artigos de Trotsky assim:

“Sua importância política e histórica ê notável e, ao mesmo tempo, eles são plenos de um vivo interesse humano, que prénde o leitor de estágio a estágio de uma narrativa espantosa.”

No dia seguinte, o Daily Express outra vez dedicou sua primeira página a Trotsky, com as seguintes manchetes:

“Denúncia violenta de Trotsky contra Stalin: ‘Sepultador do Partido’; Impressionante Explosão do Exilado: ‘Eu Vou Contê-lo’: Provocação Desafiante pelo Exilado Soviético: O que Penso de Stalin, por Leon Trotsky. E ainda outra vez, a I o de março de 1929, o Daily Express dedicou sua primeira página a Trotsky.

Em meio a uma avalanche de manchetes sensacionalistas e, como sempre, ostentando uma pose conveniente, Trotsky começava em 27 de fevereiro, de 1929, seus artigos com as seguintes palavras:

“Qualquer política com altas idéias deveria evitar a sensação, e meu objetivo ao escrever essas linhas não é sensacionalizar demais o meu caso mas, ao contrario, sufocar a sensação, para dar ao público informação objetiva, na medida em que a objetividade é possível em matéria política.

É verdade que estou agora adotando um meio diferente de me aproximar da opinião pública, diferente de antes; mas isso é porque estou em uma posição diferente de qualquer uma que eu tenha ocupado anteriormente.

Meu objetivo não é a propaganda, mas simplesmente a verdade. Antes de decidir escrever esse artigo, exigi inteira liberdade de expressão. Direi o que penso – ou nada direi.”

Nos artigos que se seguiram às últimas liohas^citadas, Trotsky lançou publicamente sua nova carreira política. Outras potências imperialistas poderosas na Europa e América foram rápidas em seguir o comando dado pelo Daily Express e colocaram suas colunas à disposição de Trotsky, permitindo-lhe ‘dizer o que ele pensava’.

Comentando sobre isto, o último desenvolvimento do trotskismo, o jornal do Gomintern Imprecorr (Correspondência da Imprensa Internacional) teve a dizer em seu número de 22 de março de 1929 o que se segue:

“Desde o fim de 1928, a imprensa da burguesia reacionária foi enriquecida por um novo colaborador, na pessoa de L. D. Trotsky. No Daily Express, o órgão de Chamberlain e do Partido Conservador da Grã-Bretanha, no New York Herald e no Tríbune, os órgãos dos capitalistas norte-americanos, nos jornais holandeses da ultradireita Algemeen Handelsblaad e Nieuve Rotterdamsche Courant, como também em outros jornaisburgueses reacionários, servidos pela American Consolidated Press Agency, uma série de artigos de Trotsky tem aparecido recentemente, que são adquiridos pela agência por uma soma substancial de dinheiro americano. Isso naturalmente foi considerado um triunfo na imprensa burguesa, que nunca tinha esperado que, em 1929, tivesse um colaborador não menos do que ‘Mr. Trotsky”, como ele é descrito na legenda de seu retrato no Daily Express. Sim, a burguesia tem razão em estar feliz. Por um tempo o nome de ‘Mr. Trotsky’ servirá como uma tentação para o amor ã sensação por parte do público que a burguesia consegue deixar em um estado de estupidez ignorante. E vale a pena pagar a Trotsky uns poucos milhares ou mesmo dezenas de milhares de dólares pelos artigos, nos quais ele difama o Partido Comunista, as autoridades soviéticas e a Internacional Comunista.

Nos últimos anos, nossos inimigos de classe têm evidenciado grande interesse pela sorte de Trotsky. A social-democracia e a imprensa burguesa têm prontamente se aferrado a toda invenção, a toda declaração difamatória de Trotsky, a todos seus ataques ao Partido, Q seus dirigentes, à autoridade soviética e ao Comintern. A seus livros e artigos é dado grande valor por publicistas e editores burgueses, que ficam felizes em propagandeá-los, vendo que o aparente verniz de esquerda de seus escritos nada significa, comparado com seu conteúdo contra-revolucionário e em comparação com o papel objetivo contra-evolucionário que esses escritos desempenharam e ainda desempenham nas mãos de nossos inimigos de classe.”

O Imprecorr segue citando esta observação de Theodore Dan, que era o dirigente dos emigrados mencheviques:

“O movimento operário social-democrata nada precisa temer em relação à atividade política de Trotsky. Ao contrário, é mais provável que ele dê o golpe de morte no movimento comunista fora da Rússia e induza os operários comunistas a retornarem à social-democracia do que fortaleçam qualquer Partido Comunista ou que enfraqueçam a social-democracia em qualquer sentido”.

Escrevendo em um jornal social-democrata alemão, outro emigrado menchevique disse que o artigo do Imprecorr “supunha que Trotsky ainda tinha resquícios de suas ilusões comunistas, sintoma do comunismo de guerra e coisas semelhantes, mas assinala que não são essas diferenças que devem ser recordadas, mas sim os vários pontos que tornavam Trotsky mais próximo dos social-democratas. Esse enfoque, ele diz, “baseia-se principalmente no fato de que: ‘Trotsky agora deriva suas bandeiras vitais do programa dos soclal-democratas russos. Os trotskistas estão gradualmente descobrindo o caminho certo.” A história de mais do que seis últimas décadas tem confirmado plenamente a confiança expressada em Í929 pelos reacionários mencheviques, em que o trotskismo operaria em detrimento do movimento comunista e em beneficio da social-democracia. Desde então, o trotskismo tem continuado a operar como uma ponta-de-lança militante anticomunista, ‘esquerdista’, da social-democracia.

Continuando com o artigo do Imprecorr:

“Os reacionários SABEM o que estão fazendo. Eles SABEM POR QUE publicam o artigo de Trotsky. Visando aos crédulos, ele tem a liberdade de fazer a advertência: ‘Antes de começar a escrever este artigo, eu exigi o direito de plena liberdade para minha forma de expressão. Direi o que penso ou não direi nada.’ Todos têm o direito de perguntar desde quando e por que a imprensa burguesa tem se tornado uma tribuna livre para os que se dizem bons leninistas. E se essa “verdade’, que aparece hoje nas colunas do Daily Express …foram pagas com o ouro da burguesia, todo operário entenderá que essa ‘verdade’ é VANTAJOSA para a burguesia, do contrário dificilmente seria paga. QueTrotsky declare que ele não visa a propaganda mas apenas a verdade. Quem quer que saiba que Trotsky estava sujeito à condição DE EVITAR TODA PROPAGANDA REVOLUCIONÁRIA saberá como avaliar o significado de sua declaração de que a propaganda não era seu objetivo.

E não é curioso que a burguesia britânica esteja disposta a pagar dezenas de milhares de dólares para ‘propaganda’ a Trotsky, enquanto ela preparava seu rompimento com a União Soviética por nenhuma outra razão que não justamente a “‘propaganda’? Não é óbvio que o tipo de propaganda de Mr. Trotsky é absolutamente diferente do tipo de propaganda pela qual os Comunistas tem sido presos e fuzilados em todos os países capitalistas da Europa e da América?… O Daily Express prefacia o artigo com uma nota curta: ‘Ele revela a história secreta dos acontecimentos que o levaram a se tornar um exilado político sem dinheiro’. Pobre Mr. Trotsky. Como é possível não ter piedade desse homem que está sem dinheiro e para fazer dinheiro ê obrigado a vender sua consciência política? Não há nada a ser feito. Ele, que tem se engajado em servir a novos senhores, deve também sofrer limitações como aquelas que Trotsky há muito tempo teria atacado nos mais veementes termos.” Em seu número de 5 de abril de 1929, o lmprecorr registrou que os escritos de Trotsky estavam circulando até em “órgãos fascistas como o ‘Corriere delia Sera’ enos ‘jornais de boulevard’ como o Jornal de Paris. Na América, os artigos de Trotsky são distribuídos pelo ‘Current News’ e pelo ‘Features’, uma organização auxiliar da Consolidated Press … Esta agência controla um grande jornal em praticamente todas as cidades, e assim Trotsky já começou tendo a grande imprensa do seu lado.”

A respeito da venenosa propaganda anti-soviética de Trotsky, em cuja difusão ele tinha a entusiasmada cooperação dos dirigentes dos órgãos imperialistas e dos barões da imprensa, vale a pena reproduzir a seguinte, embora, longa, citação de The Great Conspiracy – um esplêndido livro de Kahn e Sayers: “…fá 1903, Trotsky tinha dominado o truque de propaganda que Lênin chamou de ‘bandeiras ultra-revolucionárias quê nada lhe custavam’. Agora, em escala mundial, Trotsky passou a desenvolver a técnica de propaganda que ele tinha originalmente empregado contra Lênin e o Partido Bolchevique. Em inúmeros artigos, livros, panfletos e discursos ultra-esquerdistas e em tom violentamente radical, Trotsky começou a atacar o regime soviético e a clamar por sua derrubada violenta — não porque fosse revolucionário, mas porque era, nas palavras dele, ‘contra-revolucionário’ e ‘reacionário’.

Da noite para o dia, muitos dos velhos cruzados antibolcheviques abandonavam sua antiga linha de propaganda pró-tzarista e abertamente contra-revolucionária e adotavam o novo ardil, modernoso, de atacar a Revolução Russa ‘pela esquerda’. Nos anos seguintes, tornou-se uma coisa aceita por um Lord Rothermere ou um William Randolph Hearst acusar Stalin de ‘trair a Revolução’… O primeiro grande trabalho de propaganda de Trotsky para introduzir essa nova linha anti-soviética na contra-revolução internacional foi sua melodramática e semi-fictícia autobiografia, My Life. Primeiro publicada como uma série de artigos anti-soviéticos de Trotsky em jornais europeus e americanos, seu objetivo como livro foi difamar Stalin e a União Soviética, aumentar o prestígio do movimento trotskista e reforçar o mito de Trotsky como um ‘revolucionário mundial’. Trotsky retratou-se em My Life como o verdadeiro’inspirador e organizador da Revolução Russa, que de alguma forma foi roubado de seu lugar de direito como dirigente russo por oposicionistas ‘ardilosos’,’ medíocres’ e ‘asiáticos’.

Os agentes e propagandistas anti-soviéticos imediatamente fizeram um estardalhaço sobre o livro de Trotsky como sendo um best-seller sensacional que diziam contar a ‘história por dentro’ da Revolução Russa. Adolf Hitler leu a autobiografia de Trotsky logo que ela foi publicada. O biógrafo de Hitler, Konrad Heiden, conta em Der Fuehrer como o dirigente nazista surpreendeu um círculo de seus amigos em 1930prorrompendo-em elogios ao livro de Trotsky. ‘Brilhante’, bradou Hitler, mostrando My Life aos seus seguidores. ‘Eu aprendi muita coisa com ele e vocês podem fazer o mesmo!’

O livro de Trotsky rapidamente se tornou um livro-texto para o Serviço de Inteligência Anti-Soviético. Foi adotado como guia básico para a propaganda contra o regime soviético. A polícia secreta japonesa tornou-o leitura compulsória para os prisioneiros comunistas japoneses e chineses, em um esforço para baixar a sua moral e convencê-los de que a Rússia Soviética tinha traído a Revolução Chinesa e a causa pela qual eles estavam lutando. A Gestapo fez uso similar do livro… My Life foi apenas o começo dos atos abertos na prodigiosa campanha de propaganda anti-soviética de Trotsky. Ele foi seguido por A Revolução Traída, A Economia Soviética em Perigo, O Fracasso do Plano Qüinqüenal, Stalin e a Revolução Chinesa, A Escola de Stalin da Falsificação e outros livros, panfletos e artigos anti-soviéticos sem conta, muitos dos quais apareceram primeiro sob as manchetes berrantes de jornais reacionários na Europa e na América. O “Birô” de Trotsky supriu uma corrente contínua de ‘revelações’, ‘exposições’ e ‘história de dentro’ sobre a Rússia, para a imprensa mundial anti-soviética.

Para consumo interno na União Soviética, Trotsky publicou seu oficial Boletim da Oposição oficial. Impresso fora, primeiro na Turquia, depois na Alemanha, França, Noruega e outros países, e contrabandeado na Rússia por mensageiros secretos trotskistas, o Boletim não pretendia alcançar as massas soviéticas. Ele visava aos diplomatas, altos funcionários do Estado, militares e intelectuais que tivessem em alguma época seguido Trotsky ou que parecessem prováveis de serem influenciados por ele. O Boletim também cpntinha diretivas para o trabalho de propaganda dos trotskistas na Rússia efora dela. Incessantemente, o Boletim pintava quadros sensacionalistas de desastres iminentes para o regime soviético, prevendo crises industriais, guerra civil renovada e o colapso do Exército Vermelho ao primeiro ataque estrangeiro. O Boletim habilmente jogava com as dúvidas e ansiedades que as tensões extremas e os sofrimentos do período de construção provocavam na mente dos elementos instáveis, confusos e insatisfeitos. O Boletim abertamente conclamava esses elementos a minarem e empreenderem atos de violência contra o governo soviético.

Eis alguns exemplos típicos da propaganda anti-soviética e dos apelos pela a derrubada violenta do regime soviético que Trotsky difundia pelo mundo nos anos seguintes à sua expulsão da URSS.

‘A polícia da direção atual, o pequeno grupo de Stalin, está levando o país a toda a velocidade a crises perigosas e ao colapso’ (Letter to Members of the Communist Party of the Soviet Union, Março de 1930).

‘A crise iminente da economia soviética virá inevitavelmente no futuro muito próximo, fará ruir a lenda açucarada [de que o socialismo pode ser construído em um único país], e não temos nenhuma razão para duvidar de que ela deixará muitos mortos… A economia [soviética] funciona sem reservas materiais e sem cálculo… a burocracia descontrolada vinculou seu prestígio com a acumulação subseqüente de erros … é iminente uma crise [na União Soviética] com seu cortejo de conseqüências tais como a falência de empresas e o desemprego’ – Soviet Economy in Danger, 1932.

‘Os operários famintos [na União Soviética] estão insatisfeitos com as políticas do Partido. O Partido está insatisfeito com a direção. O camponês está insatisfeito com a industrialização, com a coletivização, com a cidade.’ – artigo em ‘Militant (EUA), 4 de fevereiro de 1933.

‘O primeiro choque social, externo ou interno, levará a sociedade soviética atomizada à guerra civil’ (The Soviet Union and the Fourth International, 1933).

‘Seria infantilidade pensar que a burocracia de Stalin pode ser removida por meio de um Partido ou Congresso Soviético. Os meios normais, constitucionais, não são capazes de remover a elite dirigente… Eles só podem ser compelidos a ceder o poder à vanguarda proletária pela FORÇA’ (Bulletin of Opposition, outubro de 1933).

‘A crise política converge para a crise geral que está avançando gradualmente’ (The Kirov Assassination, 1935).

‘Dentro do Partido, Stalin tem se colocado acima de toda a crítica e do Estado. É impossível removê-lo exceto pelo assassinato. Todo oposicionista se torna ipso facto um terrorista’ (Declaração na entrevista ao ‘New York Evening Journal’, de William Randolph Hearst, 26 de janeiro de 1937). ‘Podemos esperar que a União Soviética saia da grande guerra vindoura sem derrota? A esta questão, colocada francamente, responderemos com a mesma franqueza: se a guerra continuasse sendo apenas uma guerra, a derrota da União Soviética seria inevitável. No sentido técnico, econômico e militar, o imperialismo é incomparavelmente mais forte. Se ele não for paralisado por uma revolução no Ocidente, o imperialismo liquidará o regime atual’ (Artigo no ‘American Mercury’, Março, 1937).

‘A derrota da União Soviética é inevitável caso a nova guerra não provoque uma revolução … Se nós teoricamente admitimos guerra sem revolução, então a derrota da União Soviética é inevitável” (Testemunho em Depoimentos no México, abril de 1937.” (pp. 224-227, Red Star Press). Alguns dos grupos trotskistas, numa vã tentativa de justificar Trotsky, têm comparado a relação deste com a imprensa imperialista aos artigos de Marx para o New York Daily Tribune, em 1850. Essa comparação, no entanto, não resiste à apuração. Eis as diferenças: O Daily Express era em 1929, como é hoje, o órgão da reação imperialista, enquanto o New York Daily Tribune era nos anos 1850 o óigão da democracia mais avançada na fase pré-imperialista do capitalismo americano – um período em que a democracia burguesa era ainda progressista e tinha tarefas progressistas significativas em sua agenda, por exemplo a abolição da escravatura. Foi fundado por um grupo de socialistas utópicos fourieristas e acompanhou a luta contra a escravidão e em apoio ao movimento democrático na Europa. Mehring, em sua biografia de Marx, diz que o Tribune, “por sua agitação por uma modalidade americana do fourierismo, elevou-se acima das atividades- exclusivamente gananciosas de um empreendimento capitalista ” (p. 227).

Para Lord Beaverbrook, não é preciso dizer, nenhuma atividade humana podia ser mais nobre do que a ganância. Enquanto Marx ganhou uns poucos dólares por peças excelentemente escritas e completamente científicas de trabalho de pesquisa sobre os movimentos democráticos revolucionários na Europa e na índia, a carteira de Trotsky estava recheada com moeda sangrenta imperialista pelos seus ataques reacionários ao primeiro país socialista, que estava na época heroicamente construindo o socialismo, em desafio tanto à oposição interna quanto ao cerco imperialista. Enquanto Marx, em seus artigos, atacava e denunciáva toda reação, Trotsky atacava o socialismo na URSS e seus artigos estavam singularmente carentes de qualquer denúncia do imperialismo. Afinal, Beaverbrook não estava pagando a Trotsky para denunciar o imperialismo: ele estava pagando para atacar a União Soviética e o Comintern – o movimento comunista internacional – que era tudo sobre o que Trotsky estava ‘livre’ para escrever no Daily Express e em outros órgãos imperialistas.

Em vista do antecedente, não há comparação entre os artigos de Marx no Tribune e aqueles de Trotsky no Daily Express e outros órgãos imperialistas. Poderíamos estar inclinados a admitir tal comparação se, por exemplo, Marx tivesse, a la Trotsky, se prostituído para escrever durante o período da legislação anti-socialista de Bismarck artigos na imprensa alemã reacionária atacando os dirigentes socialistas e recebido em troca grandes somas de dinheiro em pagamento. Após sua expulsão da União Soviética, Trotsky continuou como começou com seus artigos para o Daily Express, de Lord Beaverbrook. Durante os anos 1930, ele foi o principal propagandista anticomunista sensacionalista do imperialismo. Todos os seus trabalhos, de My Life, em 1929, a sua biografia de Stalin (uma diatribe histérica contra Stalin na qual ele esteve trabalhando pouco antes de sua morte) foram todos escritos para consumo da imprensa imperialista. Em sua campanha anti-soviética, impulsionada por vim desejo insaciável de vingança pessoal, Trotsky perde toda credibilidade, mesmo pelos insondavelmente baixos padrões de objetividade requeridos pelo jornalismo anticomunista da imprensa de ‘qualidade’. Em seu Diaryin Exile, Trotsky escreveu sobre Stalin nos seguintes termos:

“O motivo de VINGANÇA PESSOAL sempre foi um fator considerável nas políticas repressivas de Stalin … Seu desejo de vingança contra mim está completamente insatisfeito … Essa é a fonte das apreensões mais graves para Stalin: aquele selvagem teme as idéias, porque conhece seu poder explosivo e sabe de sua fraqueza frente a elas” (p. 66).

Quem quer que tenha se inteirado dos escritos de AMBOS, Stalin e Trotsky, saberá que, enquanto Stalin indubitavelmente sempre teve desprezo por Trotsky – o desprezo proletário para com quem toma atitudes intelectuais pequeno-burguesas – Trotsky estava mergulhado na ânsia por vingança pessoal. Não há um traço dessa preocupação nos escritos de Stalin. Os escritos de Trotsky desse período (1929-39) sobre Stalin e a União Soviética, por outro lado, têm o mesmo caráter subjetivista de seus escritos sobre Lênin, durante 1903-17, quando ele se sentia continuamente ofendido por Lênin.

Impelido por seu desejo de vingança, Trotsky escreveu: “Após a burocracia ter estrangulado a vida interna do partido, os cabeças stalinistas estrangularam a vida interna da própria burocracia…” “A facção stalinista elevou-se acima do partido e acima da própria burocracia” (Kirov Assassination, pp. 12 e 25).

Tudo isso se resume no seguinte: a ‘burocracia’ tinha ‘expropriado’ a classe operária e Stalin tinha ‘expropriado a burocracia’. Em outras palavras, a classe operária da URSS era dirigida por uma ditadura burocrata que, por sua vez, estava sob a ditadura pessoal de Stalin, que, alegava-se, estava ainda mais distante dos interesses do proletariado do que a burocracia. Como Stalin veio a ocupar essa posição de poder ‘ditatorial’? Não por meio da habilidade política e fidelidade ao marxismo-leninismo, dizia Trotsky, mas por meio de um desejo pelo poder absolutamente pessoal:

“Stalin media toda situação… por um critério… a utilidade para si próprio, para sua luta pelo domínio sobre os outros. Tudo o mais estava intelectualmente fora de seu alcance … Ele também não ponderou o significado social desse processo no qual ele estava desempenhando o papel principal. Ele agia … como o empirista que é” ^Trotsky, Stalin, p. 386).

Assim, se vamos aceitar essa caricatura de uma explicação, somos obrigados a admitir também que os desenvolvimentos tempestuosos e momentosos dos anos 1930 – industrialização e coletivização socialistas – e a vitória da URSS sobre a Alemanha nazista tiveram lugar sob a ditadura pessoal de um burocrata de mente estréita, uina mediocridade política possuída de nada mais do que o desejo pelo poder pessoal absoluto, que de alguma forma ou outra manobrou para se tornar o ditador soviético! Isso não é uma explicação e sim um escárnio de uma explicação. Isto não é ciência e sim magia. Seu valor está confinado à expressão da própria mágoa de Trotsky – uma expressão dos sentimentos feridos de um ‘gênio não reconhecido’, como diria Engels.

Não há a mais remota dúvida de que Stalin ocupou uma posição excepcional no Partido Bolchevique. Embora ele não fosse a primeira pessoa a ocupar uma posição que tivesse tamanho poder (uma ‘posição ditatorial’, se alguém quiser), nenhum outro ali se manteve durante tanto tempo. Como feênin explicou, o mero fato da ‘ditadura’ pessoal não nos diz nada sobre sua natureza de classe. E, todavia, houve uma época (1925) em que Trotsky compreendeu essa verdade elementar. Em seu panfleto Where is Britain going? ele escreveu assim:

“Seguindo o rastro daqueles ‘não-leões vivos’* que escrevem editoriais no Manchester Guardian e outros órgãos liberais, os dirigentes do Partido Trabalhista costumam contrastar democracia com qualquer tipo de governo despótico, na forma de “ditadura de Lênin’, ‘ditadura de Mussolini”… Os liberais vulgares costumam dizer que são contra tanto ditaduras da esquerda quanto da direita. Para nós, entretanto, a questão é decidida pelo fato de que uma ditadura impulsiona a sociedade para a frente, e a outra a arrasta para trás. A ditadura de Mussolini é uma ditadura de uma burguesia italiana prematuramente apodrecida, impotente, completamente corrompida. E uma ditadura de nariz partido. A ‘ditadura de Lênin’ expressa a poderosa pressão de uma nova classe histórica e sua luta super-humana contra todas as forças da velha sociedade. Se Lênin tem de ser comparado com alguém, não é com Bonaparte e, ainda menos, com Mussolini, mas com Cromwell e Robespierre. Pode-se dizer com uma certa dose de verdade que Lênin é o Cromwell proletário do século 20.” (pp. 91-92).

*Nota do tradutor: Neste mesmo texto, Trotsky referiu-se a Oliver Cromwell como “o leão morto do século 17”, o que pode explicar o uso, aqui, da expressão depreciativa “não-leões vivos”.

E adiante: “Um louco, um ignorante ou um fabiano pode ter visto em Cromwell APENAS um ditador pessoal. Mas na realidade, aqui, nas condições de uma profunda ruptura social, a ditadura pessoal foi a forma adotada por uma ditadura de classe, e essa classe era a única capaz de livrar o âmago da nação dos velhos cascos e das velhas cascas” (p. 97).

Assim está claro que a explicação da ‘ditadura de Stalirf é a mesma que aquela da ‘ditadura de Lênin’, pois nenhuma outra explicação faz sentido. Trotsky, que teve uma explicação segura, em 1925, da ‘ditadura de Lênin’, na época em que teve de explicar a ‘ditadura de Stalin’, tornou-se ‘um louco, um ignorante ou um abiano”, que viu em Stalin “apenas um ditador pessoal”, ignorando “as condições de uma profunda ruptura social” e a classe operária “que era a única capaz de livrar” a sociedade dos “velhos cascos e das velhas cascas”. Trotsky, em seu desejo de vingança, caracteriza Stalin como um selvagem. O poder do selvagem é a fantasia, pois ele vive em um mundo imaginário, no qual pensa que pode controlar as forças da natureza através da imitação – que pode produzir chuva imitando uma trovoada. Stalin, por outro lado, exerceu poder real – um poder que não foi de forma alguma exercido pelos métodos ineficazes de um selvagem. O poder de Stalin era derivado da classe operária soviética. Sua autoridade pessoal não era mais – E NEM MENOS – do que uma expressão de sua direção do partido do proletariado (o PCUS) na tarefa histórica mundial da construção socialista. Stalin liderou essa luta contra severos assaltos da oposição da ‘esquerda’ (trotskista) e da ‘direita’ (bukharinista). A linha leninista de Stalin da Construção socialista e da coletivização venceu, e a prática confirmou a correção dessa linha. No curso dessa acirrada luta pela vitória da linha leninista, Stalin enlergiu como o homem mais representativo do PCUS e do proletariado soviético. Foi essa liderança na luta, tão habilmente conduzida por ele, que lhe deu imensa autoridade e poder imenso e singular.

A seguinte citação de um excelente panfleto do fim dos anos 1960, produzido por um grupo de anti-revisionistas, aponta corretamente a fonte do poder de Stalin como sendo o proletariado soviético:

“A fonte do poder de Stalin era a classe operária. Seu poder pessoal, de fato, não era nada mais do que sua efetiva direção da classe operária na construção do socialismo.

Stalin dirigiu a classe operária russa por trinta anos. Estes foram anos de contínuas, rápidas e fundamentais mudanças sociais na União Soviética. Em uma sociedade estagnada, uma ditadura pessoal baseada no poder militar pode continuar por um período relativamente longo’, por força da inércia. Mas a força da inércia não pode explicar nada acerca da posição de Stalin. Em nenhuma época a força da inércia o teria mantido em sua posição sequer por um ano. Em um período de mudança revolucionária, a permanência no poder de um dirigente político individual só pode ser explicada por sua efetiva direção da classe cujo interesse é a força motriz dessa mudança. Só havia uma classe na União Soviética cujo interesse requereu a abolição do capitalismo e do sistema de mercadorias, que era a classe operária. Se o poder de Stalin não fosse uma expressão de sua efetiva direção da classe operária, então seria de caráter inteiramente milagroso” (On Trotskyism, Organização Comunista Irlandesa).

À medida que o tempo passava, Trotsky se tornava cada vez mais amargurado e frustrado. “O debacle final da Quinta Coluna Russa no julgamento de Moscou do Bloco dos Direitistas e Trotskistas”, dizem Kahn e Sayers, “foi um golpe atordoante para Trotsky. Um tom de desespero e histeria começou a dominar seus escritos. Sua propaganda contra a União Soviética cresceu incessante, precipitada, contraditória e extravagantemente. Ele falava incessantemente sobre sua própria ‘correção histórica’. Seus ataques contra Josef Stalin perderam toda aparência de razão. Ele escreveu artigos afirmando que o dirigente soviético tinha um prazer sádico em ‘soprar fumaça’ nos rostos de crianças. Cada vez mais, seu ódio pessoal a Stalin se tornou a força dominante na vida de Trotsky. Ele pôs seus secretários a trabalharem numa Vida de Stalin maciça, injuriosa” (A Grande Conspiração, p. 334).

Dez anos após a morte de Trotsky, seu biógrafo trotskista fez este relato sobre as atividades literárias de Trotsky no último ano de sua vida:

“Dificuldades financeiras [não de alimentação, roupa e abrigo, mas os problemas de financiamento de seu esquema contra-revolucionário] levaram-no a uma estranha disputa com a revista Life. No final de setembro de 1939… um dos editores de Life veio ao Coyoacán [a fortaleza mexicana de Trotsky] e lhe encomendou um artigo sobre a morte de Lênin [Trotsky tinha acabado de terminar o Capítulo em Stalin sugerindo que Stalin tinha envenenado Lênin, e essa versão seria publicada na Lije]. Seu primeiro artigo apareceu na revista a 2 de outubro. Embora contivesse reminiscências relativamene inofensivas, o artigo provocou a ira dos ‘liberais’ pró-stalinistas, que inundaram Life com protestos furiosos. Life publicou algumas dessas manifestações, para aborrecimento de Trotsky, que declarou que os protestos tinham vindo de uma ‘fábrica da GPU’ em Nova York e eram difamatórias contra ele. Contudo, enviou seu segundo artigo, o único sobre a morte de Lênin; mas Life se recusou a publicá-lo. Ironicamente, as objeções dos editores eram bastante razoáveis: eles consideraram inconvincente a noção de Trotsky de que Stalin havia envenenado Lênin, e pediram a ele ‘menos conjectura e mais fatos inquestionáveis’. Ele ameaçou processar a Life por quebra de contsato e em um acesso de raiva submeteu o artigo à Saturday Evening Post e à Colliers, tendo sido outra vez recusado, até que Liberty finalmente publicou-o. No final, Life pagou-lhe pelo artigo rejeitado” (Deutscher, The Prophet Oytcast, p. 446).

A biografia de Stalin por Trotsky é uma coleção de mexericos ressentidos, reunidos de maneira tão sensacionalista, tão vil e patentemente histérica e despida de fundamento quanto inaceitável – não apenas pela imprensa imperialista mas mesmo por seu apaixonado biógrafo, Isaac Deutscher, que achou prudente admitir que:

“…ao compor o retrato [de Stalin], ele usa abundantemente e com excessiva freqüência material de inferência, especulaçõês e boatos. Ele pinça qualquer peça de mexericos ou rumores, desde que mostre algum traço de crueldade ou sugira traição no jovem Djugashvili. Ele dá crédito a colegas e mais tarde inimigos de Stalin que, nas reminiscências sobre sua infância, escreveram no exílio, trinta ou mais anos depois dos acontecimentos, dizendo que o jovem Saso ‘tinha apenas um sorriso de escárnio para as alegrias e tristezas de seus companheiros’ … ou que ‘desde sua juventude empreender conspirações vingativas tornou-se para ele um objetivo que dominava todos os seus esforços’. Ele cita adversários de Stalin que retratam o jovem e o homem maduro quase como um agente provocador. Não há necessidade de buscar muitos exemplos desse enfoque. O mais notável é, por certo, a sugestão de que Stalin teria envenenado Lênin” (Ibid., p. 453). Deutscher foi incapaz de se conciliar com a caricatura de Stalin feita por Trotsky. Tanto tinha degenerado o alegadamente brilhante Trotsky em 1939 que mesmo seus admiradores e idólatras, sentiram-se desconfortáveis e embaraçados com sua atividade literária. Deutscher considera o retrato de Stalin por Trotsky implausível porque:

“O monstro não se forma, cresce e emerge. Ele está quase plenamente formado desde o início. Quaisquer melhores qualidades e emoções … sem as quais nenhum jovem pode juntar-se a um partido revolucionário, estão quase totalmente ausentes. A ascensão de Stalin dentro do Partido não se deve a mérito ou logro; e assim, sua carreira se torna muito próxima do inexplicável. Sua eleição para o Politburo de Lênin, sua presença no interior do gabinete bolchevique e sua indicação para o posto de Secretário Geral parecem muito fortuitas” (Ibid., p. 455).

De 1929 a 20 de agosto de 1940, o dia de sua morte, Trotsky prestou um serviço de lacaio anticomunista de inestimáveis proporções à máquina de propaganda imperialista, e quando partiu deste mundo, apropriadamente deixou seus arquivos para a burguesia imperialista. Enquanto Marx tinha deixado todas as coisas com Engels, este passou tudo ao Partido Social-Democrata (revolucionário na época). Do mesmo modo, Lênin e Stalin legaram tudo ao Partido Bolchevique. Trotsky vendeu seus arquivos à Harvard University por US$ 15.000, onde eles continuam a ser usados como material de ‘pesquisa’ na incessante propaganda anticomunista do imperialismo internacional.

E, durante todo esse período, a atividade literária anticomunista de Trotsky foi suplementada pela atividade prática, meticulosamente coordenada, através de laços estreitos entre a chamada Quarta Internacional de Trotsky e a Rede do Eixo da Quinta Colima. Deixemos Kahn e Sayers contar essa história:

“A partir da vila Coyocán fortificada, Trotsky dirigia sua ampla organização, anti-soviética de âmbito mundial, a Quarta Internacional.
Através da Europa, Ásia e América do Norte e do Sul, laços íntimos existiam entre a Quarta Internacional e a Rede do Eixo da Quinta Coluna:

NA CHECOSLOVÁQUIA: Os trotskistas estavam trabalhando em colaboração com o agente nazista Konrad Henlein e seu Sudeten Deutsche Partei (Partido Alemão Sudeten). Sergei Bessonov, o mensageiro trotskista que tinha sido conselheiro na Embaixada Soviética em Berlim, testemunhou, quando esteve sob julgamento em 1938, que no verão de 1935 ele tinha estabelecido relações em Praga com Konrad Henlein. Bessonov declarou que ele pessoalmente tinha agido como intermediário entre o grupo de Henlein e Leon Trotsky.

NA FRANÇA: Jacques Doriot, agente nazista e fundador do Partido Popular fascista, era um comunista renegado e trotskista. Doriot trabalhou estreitamente, como fizeram outros agentes nazistas e fascistas franceses, com a seção francesa da Quarta Internacional Trotskista.

NA ESPANHA: Os trotskistas permeavam as fileiras do POUM, a organização Quinta Coluna que estava qjudando a insurreição fascista de Franco. O Chefe do POUM era Andréas Nin, velho amigo e aliado de Trotsky.

NA CHINA: Os trotskistas estavam operando sob a supervisão direta da Inteligência Militar Japonesa. Seu trabalho era altamente considerado, por dirigir oficiais de inteligência japoneses. O Chefe do Serviço de Inteligência em Pequim declarou em 1937: ‘Nós deveríamos apoiar o grupo dos trotskistas e promover seu sucesso, de tal forma que suas atividades em várias partes da China possam beneficiar e trazer vantagens para o império, pois esses chineses são destrutivos para a unidade do país. Eles trabalham com notável sutileza e destreza.’

NO JAPAO: Os trotskistas eram chamados de’ ‘reunião de cérebros do serviço’. Eles instruíram os agentes secretos japoneses em escolas especiais nas técnicas de penetração no Partido Comunista na Rússia Soviética e de combate às atividades antifascistas na China e no Japão.

NA SUÉCIA: Nils Hig, um dos principais trotskistas, recebeu um subsídio financeiro do financiador pró-nazista e vigarista Ivar Kreuger. Os fatos do subsídio que Kreuger concedeu ao movimento trotskista foram tornados públicos após o suicídio de Kreuger, quando os auditores encontraram entre seus documentos recibos de todo tipo de aventureiros políticos, incluindo Adolf Hitler. Por todo o mundo, os trotskistas tinham se tornado os instrumentos pelos quais os serviços de inteligência procuravam penetrar nos movimentos liberais, radicais e trabalhistas para seus próprios fins” (The Great Conspiracy, pp. 331-2). Os mesmos autores enfatizam que, mesmo após a morte de Trotsky, a Quarta International continuou suas atividades de quinta colima. Após darem exemplos da Inglaterra e América, eles acrescentam:

“O correspondente estrangeiro americano Paul Ghali, do Chicago Daily News, relatou da Suíça, em 28 de setembro de 1944, que Heinrich Himmler, chefe da Gestapo, fez uso dos trotskistas europeus como parte da organização nazista clandestina planejada para sabotagem e intriga no pós-guerra. Ghali relatou que as organizações de jovens fascistas foram bem treinadas em ‘marxismo’ trotskista, supridas com papéis falsos e armas e deixadas atrás da linhas aliadas com ordens para se infiltrarem nos partidos comunistas nas áreas liberadas. Na França, Ghali revelou, membros da milícia fascista de Joseph Darnand estavam sendo armados pelos nazistas para terrorismo e atividades de quinta coluna no pós-guerra. ‘Essa escória da população francesa’, acrescentava o relato de Ghali, está sendo treinada para atividade bolchevique na tradição.da Internacional de Trotsky, sob as ordens pessoais de Heinrich Himmler. O seu trabalho é sabotar as linhas de comunicação aliadas e assassinar políticos franceses gaulistas. Eles estão sendo instruídos a dizerem a seus companheiros que a União Soviética de hoje representa apenas uma deformação burguesa dos princípios originais de Lênin e que está mais do que na época de voltar a uma sadia ideologia bolchevique. Essa formação de grupos de terroristas vermelhos é a mais recente política de Himmler, que visa a criar uma Quarta Internacional, amplamente contaminada por germes nazistas. E voltada tanto contra a Inglaterra e os americanos quanto contra os russos, particularmente os russos” (Ibid. p. 33).

Os equívocos teóricos e organizacionais de Trotsky foram agravados por sua insuportável arrogância e crença em sua própria infalibilidade. Para dar ao leitor uma prova da arrogância nauseante de Trotsky, típica do intelectual pequeno-burguês que ele era, concluímos esse apêndice com três citações de Minha Vida, de Trotsky, que mostram o que ele realmente era – uma pessoa afetada, que fazia poses. Durante a Revolução de 1905, Trotsky retornou à Rússia e tornou-se membro preeminente do Soviete de Petersbuigo, então sob o controle dos mencheviques. Em 26 meses emergiu da experiência com a convicção de que estava destinado a ser o líder da revolução russa, já falando em termos de ‘destino’ e de sua ‘intuição revolucionária’. Mais de 20 anos mais tarde, ele escreveu:

“Cheguei à Rússia em fevereiro de 1905; os outros dirigentes emigrados não chegaram senão em outubro e novembro. Entre os camaradas russos, não havia um de quem eu pudesse aprender nada. Ao contrário, eu mesmo tive de assumir a posição de professor… Em outubro eu mergulhei de cabeça num redemoinho gigantesco, que, em termos pessoais, era o maior teste para as minhas energias. Decisões tinham de ser tomadas sob fogo. Eu não podia deixar denotar que aquelas decisões vinham para mim de maneira muito óbvia… Eu organicamente sentia que meus anos de aprendizado tinham acabado… nos anos que se seguiram, eu tenho aprendido como um mestre aprende, e não como um aluno … Nenhuma grande obra é possível sem intuição… Os acontecimentos de 1905 mostraram que havia em mim, eu acredito, esta intuição revolucionária, e me capacitaram a confiar que ela me desse apoio em minha vida posterior… Em sã consciência, não posso, na apreciação da situação política como um todo e de suas perspectivas revolucionárias, acusar-me de qualquer erro sério de julgamento.”

Em janeiro de 1924 Lênin morreu. Trotsky, que na época estava recuperando-se no Cáucaso de um leve ataque de influenza, não retornou a Moscou para os funerais de Lênin, permanecendo no balneário de Sukhum. Ele recorda: “Em Sukhum eu passei longos dias descansando na varanda em frente ao mar. Embora fosse janeiro e o sol estivesse quente e luminoso… Quando eu respirava o ar, eu assimilava com todo o meu ser a segurança de minha retidão histórica…” (Minha Vida).

Trotsky concluiu seu livro com este parágrafo final, esforçando-se para adotar uma nova pose – desta vez por voltar a Proudhon, ao socialista de mercado pequeno-burguês e pai do anarquismo moderno: “Proudhon”, disse Trotsky, “tinha a natureza de um lutador, um desprendimento espiritual, uma capacidade de desprezar a opinião pública oficial e, finalmente, uma insaciável curiosidade multilateral. Isso capacitou-o a se elevar acima de sua própria vida … como ele fez acima de toda a realidade contemporânea. Em 26 de abril de 1852, Proudhon escreveu da prisão a um amigo:

‘O movimento sem dúvida é irregular e tortuoso, mas a tendência é constante. O que cada governo faz por sua vez em favor da revolução se torna inviolável: Eu me regozijo com esse espetáculo do qual entendo cada quadro isolado; Observo essas mudanças na vida do mundo como se tivesse recebido do alto sua explicação; o que deprime outros eleva-me cada vez mais, inspira-me e fortifica-me; como se pode querer então que eu acuse o destino, me queixe das pessoas e as amaldiçoe? Destino – Eu me rio disso; e quanto aos homens, eles são ignorantes demais, escravizados demais para que eu me sinta aborrecido com eles.’

“A despeito de seu leve sabor de eloqüência eclesiástica, estas são belas palavras. Eu as subscrevo” (My Life). Pelo menos quando Proudhon sentiu o desejo de elevar-se acima “de toda a realidade contemporânea”, ele disse isso numa correspondência privada. De sua parte, Trotsky, quando adotou essa pose, rindo do destino e desfazendo dos homens e mulheres como “muito ignorantes” e “muito escravizados”, ele o fez na imprensa imperialista, isto é, através dos próprios instrumentos de perpetuação da ignorância e da escravidão. Não admira que ele fosse regiamente recompensado pelos Beaverbrooks do mundo por sua tentativa de manter a classe operária na obscura ignorância.

O esforço de Trotsky por adotar uma pose proudhonista relembra-nos esta penetrante observação de Marx:

“… todos os fatos e personagens de grande importância na história ocorrem, por assim dizer, duas vezes… : a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. (The Eighteenth Brumaire ofLouis Bonaparte).

Em 1939, Trotsky esteve em contato com o Comitê Congressional chefiado pelo representante do Texas Martin Dies. Instalado para investigar atividades antiamericanas, o Comitê tinha se tornado um fórum de propaganda anti-soviética. Trotsky foi convidado a depor como ‘testemunha especial’ sobre a ameaça de Moscou. O New York Times de 8 de dezembro citou Trotsky como tendo dito que considerava seu dever político testemunhar ante o Comitê Dies. Foram discutidos arranjos para a viagem de Trotsky aos’ Estados Unidos. O plano, entretanto, se desfez. Menos de oito meses depois, Trotsky foi assassinado por um de seus próprios seguidores, Jacson, na vila altamente fortificada de Coyoacán, no México.